18/04/2010
Mário Soares |
E entre elas existe esta coisa espantosa: S. Excelência veio revelar o que aparentemente estava escondido no mais recôndito do seu bestunto, ou seja, que ele foi sempre um fervoroso adepto de que Cabo Verde não devia ser independente, pois teria mais a ganhar se tivesse ficado ligado a Portugal! As reacções foram quase nulas, com excepção de desbragados dizeres que inundaram a blogosfera e que se esgotam nesse âmbito.
A razão de tal, creio que é fácil de identificar: à força do Dr. MS nos ter habituado a dizer uma coisa hoje, e o seu contrário amanhã, já ninguém se incomoda, e sorriem. Os mais causticos invocam a acção de um estranho alemão, com nome começado por “A” para explicar o fenómeno. O povo na sua sabedoria, que se perde na bruma dos tempos, identifica estes actos apelidando-os de “troca tintas”.
Vejamos, sucintamente o que se passou naqueles tempos: uns então jovens camaradas meus, há uns 36 anos a esta parte, revoltados por causa de uma lei que, insensatamente, lhes prejudicava as carreiras, decidiram protestar contra aquela e resolveram reunir-se, às dezenas, em vários pontos do território nacional. A maioria – não tenho dúvidas – era bem intencionada (nós somos poucos e conhecemo-nos todos …), mas sofria de grossa ignorância sobre a História, as coisas da vida e sobretudo daquilo que era a Política e as Relações Internacionais. Sabia isso sim, de tropa e … futebol. E gostavam bastante, honra lhes seja, de falar de mulheres. Enfim, outros tempos…
Excitados por uns quantos e infiltrados por outros (estes últimos tinham lido a esmo, uns livros sobre alguns “ismos”), rapidamente evoluíram das reivindicações profissionais, para objectivos políticos que vieram a consubstanciar-se no derrube do governo/regime, que dominava os órgãos do Estado. O facto da Nação estar a enfrentar uma guerra de guerrilha orquestrada e apoiada por uma parte substancial da comunidade internacional (coisa recorrente desde que somos independentes e sobretudo desde a coroa dual Filipina…), e ataques no âmbito político, diplomático, económico/financeiro e psicológico, que a colocavam numa perigosa esquina da sua já vetusta História, não lhes deve ter ocorrido e preocupado. Também o que é que se podia exigir de “rapazes” que nem sequer tinham ouvido falar no Dr. Álvaro Cunhal, como um deles recentemente afirmou, por alturas de Novembro.
Ora consumado o golpe, logo fizeram esta coisa de antologia que foi, “esquecerem-se” de proclamar o estado de sítio – resultou que o poder caíu na rua – desatando a prenderem-se uns aos outros, sem regras – o que estilhaçou a coesão da Instituição Militar.
Na sequência foram receber com vivas e foguetes, vários apóstolos transviados que eles não conheciam ou vagamente tinham ouvido falar e que andavam há anos a penar pela estranja, muitos deles, ajudando objectivamente os inimigos que nos atacavam e emboscavam as tropas. É de crer que alguns dos que rapidamente viraram revolucionários, tenham sofrido com isto e tenham visto alguns dos homens que comandavam, perecer. A alucinação dos tempos idos, deve ter-lhes obliterado a consciência… Um destes personagens que então chegaram, chamava-se MS.
Alcandorado a ministro, por obra e graça das acções que tinha feito – então apelidados de meritórias ou simplesmente de “antifascistas” – MS dedicou-se a pôr em prática a alienação sistemática dos nossos territórios e populações para a órbita das forças marxistas e apenas dessas. Se isto foi feito por ignorância, despeito, vingança, ou por obrigação a acordos feitos previamente, com forças internacionalistas ou governos ávidos de nos abocanhar as partes, é assunto que um dia se conhecerá com clareza. O que foi feito, seguramente o foi à revelia dos portugueses (incluindo ou não caucasianos) e dos interesses nacionais. Isto, antigamente, tinha um nome!
Deste modo, numa sequência veloz e demoníaca, se alienou a Guiné, Cabo Verde, S. Tomé e Príncipe, Moçambique e Angola. Timor foi ocupada pela Indonésia que não esteve para aturar os desvarios de Lisboa, e só não se largou Macau, logo ali, porque a China – que aliás nunca tinha reivindicado o território – impôs calma e ponderação.
Tudo se fez de maneira atribiliária, sem respeito por nada e sem sequer se seguir os ditames prescritos na ONU, para os casos de verdadeiro colonialismo (que não era o nosso caso), ou seja aquilo que os correligionários de MS e outros, clamavam havia anos!...
Não contente com todo este descalabro que nos envergonhará para todo o sempre, que originou um “holocausto”, de cerca de um milhão de almas e sofrimentos inimagináveis para outros milhões – o Dr MS, resolveu, por sua iniciativa e sem consultar os “poderes” do Terreiro do Paço – desatar aos beijos e abraços, na ONU, ao ministro dos estrangeiros indiano, oferecendo-se para reconhecer oficialmente a crapulosa invasão de Goa, Damão e Diu, pela União Indiana, em 17/12/1961. Estava-se em Dezembro de 1974, ficando a ignomínia consumada por lei de 1975 (apesar de sair com data de 1973…).
Tiveram o despudor de chamar a tudo isto de “descolonização exemplar”…
Ora é este excelente português que agora vem dizer que Cabo Verde não devia ser independente. Mais, que tem dúvidas que o arquipélago possa ser considerado africano. O Dr. MS só pode dizer isto porque desconhece o significado do termo “vergonha” e por ter aprendido na escola da baixa política onde pelos vistos se formou, a dizê-lo com a maior desfaçatez e à-vontade.
De facto nunca deve ter ocorrido ao Dr. MS, que a situação geográfica é marginal ao direito dos povos constituírem países. Que se saiba, os EUA não têm quaisquer problemas por terem comprado o Alaska ou ocupado o Hawai; e que a URSS e agora a Rússia, nunca se tivessem preocupado em ocupar longitudinalmente uma dezena de meridianos europeus e asiáticos; tão pouco preocupou o Dr. MS que a Holanda e a França, por ex., possam ter ilhas fora do continente europeu. Não, MS preocupa-se agora que Cabo Verde seja independente, apesar da maioria dos seus habitantes ser mestiça e oriunda do continente africano, mas tal não ser extensível – vá-se lá saber porque bulas – a S. Tomé e Príncipe.
O pequeno pormenor das ilhas terem sido descobertas desertas e sido colonizadas por portugueses brancos, também lhe escapa. Desconhece-se como reagiria MS se um dia os açorianos, quisessem ser independentes - apesar de aparentemente não serem africanos, ou se os EUA os quisessem aglutinar como 52º estado da União, inventando para isso os “Ventos da História” convenientes.
Em resumo, até meados dos anos 60 do século XX, a conhecida “oposição democrática”, de cujas fileiras o D. Mário, diz hoje uma coisa e amanhã outra, Soares, surgiu como figura proeminente, sempre defendeu a integridade do todo nacional; por essa altura mudou de opinião e bandeou-se para o lado de quem queria destruir essa coesão multi centenária, para agora vir dizer que afinal havia excepções (Cabo Verde…).
Será rebate de consciência? Não cremos.
Afigura-se-nos consequência de uma outra tirada grandiloquente do proclamado pai da democracia portuguesa e que reza assim: “só os burros é que não mudam”.
Parece pois que o Dr. MS com receio de ser confundido com tão simpáticos ungulados, anda sempre a mudar.
Até há pouco o Dr. MS envergonhava uma larga faixa de portugueses. Agora passou a envergonhar-nos a todos.
1 comentário:
Ex.mo e estimado sr.TC.Ungulados
seremos nós também se tais afirma_
ções(até ao mais ignorante)não"me_
xerem"conosco.Explique Vexa a este
modesto Vilão.As outras antigas"Co_
lónias"Ricas;auto-suficientes,foram
tiranisadas ao longo de quinhentos
anos pelo jugo dos Portugueses(não
é o que os interesses mundiais nos
acusaram sempre?)Cabo-Verde,também
fez parte do Império,também é Áfri_
ca,só não tem petróleo;diamantes;
chove muito pouco,solos aráveis po_
bres,provàvelmente nem Geo-Estrate_
gicamente(é assim que se diz não é?"é importante,como tal já podia ter ficado Portugal,aí já eramos
todos irmãos com todas as despesas
acrescidas.Desculpe a ignorãncia do
macaco.
Alberto Guerreiro.
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