sábado, 4 de setembro de 2010

EQUÍVOCOS SOBRE O 1º DE DEZEMBRO E SEU FERIADO

01/01/2010

Monumento nos Restauradores, em Lisboa,
que assinala a Restauração de Portugal,
no 1.º Dezembro de 1640
“Só existem Nações, não existe Humanidade”
Fernando Pessoa, in, Textos Filosóficos e Esotéricos, 1915

Primeiro de Janeiro, começamos bem o ano, na luta de sempre...

Num País (o nosso), em que a asneira virou livre, na justa medida em que não acarreta consequências para os seus autores, assistimos agora à proposta da Associação Empresarial de Portugal (AEP), pela boca do seu vice presidente, Paulo Nunes de Almeida (PNA), defendendo que existem feriados a mais, em Portugal, e que aquele que devia ser sacrificado à cabeça seria o 1º de Dezembro.

Lembra-se que, nesta data, se comemora a libertação do jugo Filipino que representava a coroa dual ibérica, em 1640, vulgo “Restauração” de Portugal. Adjectiva até, a comemoração de “situação caricata” e “contra naturam”.

A gente ouve isto e já não se espanta dadas as barbaridades que, por graça de Deus – e estupidez dos homens – temos sido servidos de assistir neste antigo jardim (pouco) florido.

Comemorações do 1.º de Dezembro nos Restauradores em Lisboa.
Foto de Manuel Pinto, cedida pelo Jornal de Coruche
Já em tempos,que foram os da mudança da decisão da construção do futuro aeroporto de Lisboa (que se espera seja mesmo muito futuro...), da Ota para Alcochete, o Presidente da AEP, sr. Van Zeller, do alto da sua pesporrência, relativamente aos problemas que se levantariam com a perda do Campo de Tiro, sito naquela última localidade, desde 1904, disse com ar desdenhoso: “os militares que vão dar tiros para Marrocos ou para a Andaluzia”!

Ignoramos, até hoje, se o sr. Van Zeller já estabeleceu contactos com os governos espanhol e marroquino para obter a autorização para que tal possa acontecer e se conseguiu que algum eventual amigo seu da banca, se dispusesse a financiar tal empreendimento, em vez de pôr os seus réditos a recato nas ilhas Caimão ou ir especular, com o dinheiro dos outros, nalguma praça financeira de reputação menos duvidosa.

Estes cidadãos que representam milhares de empresários, e que não são propriamente equiparáveis ao “Zé da Esquina”, deviam ter cuidado com o que dizem. Na dúvida, calem-se. Não mostrem a vossa ignorância histórica e geopolitica, públicamente. Eu sei que quem não sabe, raramente dá conta disso. Mas façam um esforço.

Já lhes ocorreu, por ex, que a Economia não é um fim em si mesma: deve derivar de uma política e ser instrumento de uma estratégia; que a economia (e as finanças), devem ter preocupações sociais e de segurança; que devem visar a sustentabilidade e as mais valias futuras e não a resolução de problemas de tesouraria ou o enriquecimento rápido; aprender a serem empresários com “E” e não apenas a comportarem-se como “donos” das empresas; não confundir a “gestão” de pessoas com a “liderança” do tijolo, é ao contrário....

Finalmente um bem para todos não reduzir o mundo ao vosso umbigo tecnocrático, muito menos à vossa recheada carteira (apenas de dinheiro).

Por fim, senhor PNA, se o senhor entendesse alguma coisa da História de Portugal jamais defenderia que fosse o feriado dessa magnifica alvorada do 1º de Dezembro a ser irradiado.

Deixando os feriados religiosos, que têm a ver com o povo católico, mas também com as tradições históricas e culturais de toda a nação portuguesa – entende-se que a AEP não se queira meter com a Igreja – os últimos feriados de cariz nacional a desaparecer só podem ser o 10/06 e o 1/12, justamente porque comemoram e exaltam a nacionalidade portuguesa, o que parece não ter qualquer significado para a AEP.

Porque não foram inteligentes e propuseram o fim do 5/10 ou o 25/04, que são datas de cariz político/revolucionário, não consensuais e que dividem a sociedade portuguesa? Agora o 1º de Dez.?, seus Migueis de Vasconcelos!

Por outro lado existe, no país, um conjunto alargado de associações e instituições, cujos estatutos referem serem patrióticas ou terem fins patróticos. Pois senhores, até hoje nenhuma delas tugiu nem mugiu perante o desaforo da AEP. Devem lá ter o “patriótico”apenas como ornamento.

É este o estado a que estamos reduzidos. São, aliás, os órgãos do Estado os principais responsáveis por todo este descalabro, pois o exemplo vem sempre de cima.

O Estado deixou de comemorar o 1.º de Dezembro sem nunca ter explicado à Nação, tal mudança. Mas vai agora comemorar os 100 anos do 5 de Outubro gastando cerca de 10 milhões de euros e uns trocos, efeméride esta, provocada por um grupo de políticos fanáticos, que utilizavam a bomba como argumento; fundada num crime de regicídio, que instalou um regime nunca referendado pelo povo e cujos actuais próceres pretendem perpetuar através de uma ditadura legislativa.

Mas tal não parece preocupar a AEP. Ela não gosta é do 1.º de Dezembro, se calhar porque desse modo pensa piscar melhor o olho a negócios transfronteiriços...

Ora foram os infelizes – que havemos de lhes chamar? – que representam o Estado Português, mas há muito deixaram de representar a Nação (que vai votando neles, mas não se revê neles), que decidiram ir assinar o malfadado Tratado de Lisboa – que nos vai suprimir o futuro – no pretérito 1.º de Dezembro, junto à Torre de Belém!

Isto não representa uma lamentável coincidência, mas sim uma provocação a toda a História de Portugal e ao que resta dos bons portugueses.

É à luz desta indignidade que a posição da AEP se percebe e faz sentido.

O maior equivoco, porém, é julgar-se que o significado do 1.º de Dezembro está ultrapassado ou pertence a outra História.

Disse Cristo: “Pai, perdoa-lhes que eles não sabem o que fazem”. Estes sabem.

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