domingo, 19 de setembro de 2010

AS ATRIBULAÇÕES POLÍTICO-MILITARES

29/07/09
Estão em crescendo!
Medidas discricionárias que visam a redução contínua e menorização da Instituição Militar; ataques persistentes à condição militar, que englobam a GNR; desentendimento já público entre o comandante daquela corporação e o MAI (escusado será dizer que o general tem razão); agitação nas associações de militares; almoço estranho entre o PM Sócrates e as chefias militares de que nada transpirou; entrevista do MDN ao jornal “i”.
            A entrevista é fraquinha a condizer com o perfil deste político de ocasião (embora já conte com vários cargos), que soubemos agora ser um “socialista liberal”, seja lá o que isso for para além da própria contradição que encerra. Mas o mal vai-se fazendo. Para além da sua habilidade em dizer vacuídades e fugir às questões, há dois ou três pontos que merecem comentário. Afirma que as relações entre o MDN e a Presidência da República foram “institucionalmente correctíssimas” (quando a pergunta tinha sido “como foram as suas relações com o PR?”), ou seja não houve – ficámos elucidados; não quer comentar a decisão da compra dos submarinos, então porquê? E a quem cabe comentar?
            Será que é por afirmar que as tropas portuguesas são muito competentes (a propósito do Afeganistão) em termos técnicos e possuírem um alto grau de profissionalismo, que o governo não se tem mostrado nada apressado em substituir a G-3 que vai a caminho dos 50 anos, e cujo processo se arrasta vai para duas décadas?
Será que a revisão da Lei de Programação Militar foi parada, como afirma, para não condicionar o próximo executivo (que grande embuste!?) e é pela mesma razão que decidiram cortar mais 2600 efectivos (1300 do quadro permanente!)? Isto só vai parar quando o Exército ficar reduzido a um batalhão (menos), como no Luxemburgo. Podem crer.
            Agora pergunta-se para leitor entender: como se decreta a extinção de 1300 militares do quadro permanente? Pergunto de outro modo, como se cortava 1300 funcionários diplomáticos (do quadro)? E 1300 médicos e enfermeiros dos hospitais civis? E 1300 magistrados? Com uma agravante, os civis podem ir trabalhar para outras empresas ou instituições. Os oficiais e sargentos do quadro permanente não podem ir trabalhar para Forças Armadas estrangeiras. As pessoas não são números... E como é possivel gerir o pessoal e dar carreira seja a quem for se se muda constantemente de ideias,de legislação e competências e se fecham unidades e orgãos e se minguam capacidades a um ritmo quase semanal? Já repararam que vai para 30 anos que não há um único factor estável de planeamento?
              Os chefes propuseram um periodo de transição de cinco anos – vá-se lá saber para tomar que medidas- mas o governo só autorizou dois. Prevê-se bernarda da grossa.
            Será que isto tem alguma coisa a ver com o facto de há três anos a esta parte o senhor ministro não publicar portaria a autorizar o número de vagas para o início do ano lectivo na Academia Militar, Escola Naval e Academia da Força Aérea, mantendo-se a ilegalidade  apesar da chamada de atenção dos chefes militares? E porque é que já ninguém se lembra de quando foi a última reunião do Conselho Superior Militar?1.
            O Senhor Ministro mostrou-se muito desejoso de voltar à sua vida académica – o senhor PM podia  tê-lo dispensado logo ali – até porque tinha os seus alunos à espera. Vá, e para bem deles desejamos que seja melhor professor do que foi ministro.
            De facto os senhores ministros passam, a instituição militar fica (até que a acabem de vez…). Normalmente não se perdem e vão para situações melhores, com a filantrópica intenção, aliás, de serem compensados pelo “sacrifício”.
           As FAs ficam a tentar consertar  os cacos que estes senhores vão deixando.
           Mandaria pois o mais elementar bom senso que os chefes militares se entendessem minimamente e tivessem uma actuação que andasse à frente dos acontecimentos e fizesse muro no essencial  e naquilo que possa pôr em causa a sobrevivência da IM. Cerrar os ouvidos e os olhos a alvitres – nomeadamemte dos seus pares, não ajuda. Promover a comunicação interna ajuda. Gostar de ser promovido ou reconduzido é licito, mas não se pode sobrepor a tudo.
Todos sabemos que é humano, mas não é bonito. Além do mais é efémero.
           Por outro lado, é raro ouvir-se os políticos, os banqueiros, os empresários e mais um contingente alargado de responsáveis a falar em ética, deontologia, camaradagem, espírito de corpo, lealdade e mais um conjunto alargado de virtudes militares e regras deontológicas que são timbre dos Exércitos. Mas os generais e almirantes falam, sobretudo para dentro da Instituição. Por isso se espera que se comportem em conformidade.
            É claro que a situação não é fácil, como nunca é fácil. Mas por alguma razão uns são praças, outros são sargentos e outros são oficiais. E há um tempo para se ser alferes, outro para se ser capitão, oficial superior e general. As coisas são o que são e cada um só pode fazer aquilo que a sua consciência dita. Mas também ninguém os pode substituir nessa responsabilidade.
            Haverá até políticos – estamos em crer – que não alijarão a ideia de provocar a IM de modo a que esta, ou parte dela, responda de tal forma que a possa pôr em causa e à sua imagem perante a opinião pública, transferindo responsabilidades ou iludindo questões. Prudência, portanto.
            Os órgãos do Estado estão cada vez mais a actuar como elementos subversivos da Nação. Isto é uma situação nova e que carece ser analisada.
            Perante tudo o que se passa no país o Presidente da República, por norma, mostra-se “preocupado”. É uma atitude estimável, mas que, em boa verdade, não resolve rigorosamente, nada.



1 - Reúne os quatro chefes e o MDN.

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