quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

O SANTO CONDESTÁVEL D. NUNO ÁLVARES PEREIRA – NUNO DE SANTA MARIA

“Aqui jaz o famoso Nuno, o Condestável, Fundador da Casa de Bragança, excelente general, beato monge, que durante a sua vida na terra tão ardentemente desejou o reino dos céus depois da morte, e mereceu a eterna companhia dos santos. As suas honras terrenas foram incontáveis, mas voltou-lhes as costas. Foi um grande príncipe, mas fez-se humilde monge. Fundou, construiu e dedicou esta igreja onde descança o seu corpo.”
Inscrição que existiria na pedra tumular da sepultura primitiva de D. Nuno Alvares Pereira, na igreja do Carmo, em Lisboa

            Por uma feliz iniciativa do autor, certamente inspirada no patriotismo que lhe corre nas veias, vamos poder desfrutar da excelsa figura de Nuno Álvares Pereira cantada por José Campos e Sousa.
            São um conjunto de bonitos poemas de autores consagrados que a sensibilidade de Campos e Sousa musicou e representam uma original e justa homenagem ao português maior e  único que foi D. Nuno.
            Em boa hora o fez.
            O futuro Fronteiro-Mor do Alentejo e Condestável do Reino, nasceu em Cernache do Bonjardim ou no Castelo da Flor da Rosa – segundo outros autores - em 1360.
            Educado com esmero e nos ideiais da Cavalaria não se limitou a rever-se neles, interiorizou-os e aplicou-os pela vida fora. Quis ser exemplo do que professava e que outros o seguissem.
            D. Nuno distinguiu-se primariamente como um grande general, um líder natural e um combatente de eleição. Somou sucessos, foi generoso na vitória  e humano para com o inimigo. A ele devem Portugal e os portugueses a mercê de serem independentes e com identidade própria no concerto das nações. Mais tarde, cumprida a tarefa de salvaguardar o trono e a segurança das fronteiras, a sua Fé – que sempre o acompanhou em tudo o que fez – levou-o a dedicar-se em exclusivo ao Bem, ao serviço de Deus e da sua alma.
            Culminou os muitos templos religiosos que mandou construir, grande parte deles em honra da Virgem Maria - de quem era especial devoto - com o convento do Carmo, em Lisboa, destinado a ser sede da Ordem com aquele nome e local para a sua última morada. Para lá entrou como simples irmão donato, ficando encarregue da portaria.
            Sendo dos homens mais poderosos e ricos do país, foi-se desfazendo da sua riqueza, quer em obras pias, quer distribuindo-a e aos títulos, pelos seus familiares, pelos seus camaradas de armas e simplesmente pelos pobres. E foi para estes que esmolava depois de se ter recolhido à sua cela do convento que mandara construir. O caldeirão que antes servira para cozinhar o rancho para as suas tropas, servia agora para alimentar os desvalidos com sopa – a sopa dos pobres!
            Como cidadão há a destacar um conjunto alargado de qualidades que pôs ao serviço da comunidade, dando exemplo de boas práticas e de bons costumes. Sobrava-lhe carácter, mas não deixou de ser humilde. Não se lhe conhecem vilezas. Por tudo isto o povo logo o apelidou de “Santo”, assim que Nuno de Santa Maria fechou os olhos, com 71 anos de vida bem vivida, rodeado do Rei e dos infantes. E não mais parou de haver romaria ao seu túmulo onde passou a tremular a luz de uma lamparina de prata oferecida pelo futuro rei D. Duarte que muito estimava o Condestável.
            Foi este rei que inaugurou as iniciativas de canonização que duraram um longo período de seis séculos até a santidade ter sido reconhecida pelo actual Papa Bento XVI, em cerimónia ocorrida em Roma, a 26 de Abril de 2009.
            É este homem, General e Santo, exemplo ímpar para Portugal e agora para todo o mundo católico, que este CD homenageia.
            Ao contrário de muitos responsáveis políticos e outros, que ignoraram a honra da canonização e o exemplo de D. Nuno, José Campos e Sousa cumpriu o seu dever de  artista, de cidadão e de português.
            Devemos estar-lhe gratos por isso.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

“OS CHUMBOS QUASE NUNCA SÃO BENÉFICOS”: Machadada Final no Ensino

31/7/2010
“De pequenino é que se torce o pepino”
adágio popular

Ministra da Educação
              A frase que encima o título resume a entrevista que a Sr.ª Ministra da Educação (melhor seria da instrução, já que a educação dá-se em casa…), deu ao Expresso de 31 de Julho.
            Por ele ficámos a saber que está a pensar fazer mais uma reforma do ensino, a juntar às já incontáveis que ocorreram nos últimos 35 anos.
            Este parece ser o golpe de misericórdia que faltava no inenarrável edifício da 5 de Outubro, onde se despeja anualmente euros às pazádas (mais de um bilião  de contos/ano, nos últimos anos!).
            De facto o modo como se abordou a questão mata à nascença qualquer hipótese de conteúdo positivo que a ideia contivesse. Pensem bem e recuem aos tempos em que estudavam: se por acaso aparecia um professor a dizer “esta e aquela matéria não vem para o ponto”, o que é que 99% dos alunos fazia? Isso mesmo, arrumava os livros referentes à matéria apontada e nunca mais pegava neles. O que a Srª Ministra veio dizer foi isto: nenhuma matéria vem para o ponto; melhor, já não há ponto…isto numa altura em que quase já não há exames…
            Estão a ver não estão? Dando outro exemplo, é como querer que exista Exército e acabar com o RDM e o CJM [1], e bem têm tentado fazê-lo!
            Outro erro de monta é andar constantemente a invocar o que se passa nos outros países para que nos sirva de exemplo, nomeadamente os famigerados congéneres europeus. Ora isto é outro disparate desconforme. Não, que não se deva estudar o que por lá se passa para, com as devidas adaptações, as implementarmos caso se mostrem adequadas. Agora decalcar coisas de realidades diferentes com meios diferentes e, sobretudo, gente diferente, não é adequado nem sério.
            O sistema de ensino tem que ser adequado à nossa idiossincrasia, à nossa cultura e aos nossos costumes e tradições e estudado por quem conheça bem os que “de luso ou lisa, filhos foram, parece, ou companheiros”, no dizer de Camões. Aliás, não é apenas o sistema educativo que deve tal reflectir: tudo o resto que enforma a sociedade o deve ter em conta, a começar no sistema político, no modo de gerir empresas, comandar homens em combate, ou treinar a selecção de futebol. E já agora, no campo legislativo, pois temos que fazer leis para as pessoas pela simples razão de que não se podem fazer pessoas para as leis…
            Parece, à primeira vista, que quem não entenda isto, sofre  de profunda estupidez. Mas isto apenas se aplica a uma pequena percentagem da população, até porque tal tem a ver com o bom senso que é o senso comum de todos; haverá uma larga maioria que não tem informação ou conhecimentos suficientes para entender determinadas coisas – aliás a maioria dos assuntos – ou pura e simplesmente as coisas passam-lhes ao lado. Sem embargo há, estou certo, minorias que sabem muito bem o que andam a fazer, uns porque acreditam piamente; outros porque é politicamente correcto e ainda uns quantos que estão ao serviço de determinadas ideologias ou interesses.
            A classe politica entra, seguramente, na sua esmagadora maioria dentro deste último âmbito.
            Ora isto de andar com as criancinhas ao colo, pôr os direitos à frente dos deveres (acabar mesmo com estes…), desresponsabilizar os delinquentes, relativizar tudo, atacar regras, hierarquias, conceitos e referências; confundir o Mal com o Bem e mais uma quantidade de ideias verdadeiramente subversivas da sociedade e do correcto convívio entre humanos, representam conceitos político-ideológicos que ainda derivam da Revolução Francesa, a que se veio misturar o lixo anti doutrinário do pós Maio 68, em França. Junte-se a isto doses q.b. de demagogia – doença infantil da Democracia – a que qualquer governo/partido que não olhe a meios para se manter no Poder, usa e abusa, e temos uma amálgama explosiva que rebenta com qualquer nação digna desse nome. Mesmo aquelas que nasceram no século XII e ganharam maioridade no século XIII/XIV…
            Não é senhora ministra?
           Já não lhe chegava (e aos seus antecessores), a chusma de passagens administrativas; os exames faz de conta; as novas oportunidades; a babilónia de cursos; a indisciplina de todos; o granel nas carreiras e nas avaliações de professores; governarem para as estatísticas; a luta perdida contra o abandono escolar e mais um ror de coisas que uma resma de papel A4 não chegava para explicitar e ainda quer acabar com os chumbos?
             O resultado de tudo isto é os jovens portugueses andarem há mais de 30 anos a chegarem ao mercado de trabalho na sua maioria, analfabetos encartados, sem estarem minimamente preparados para a vida – que é dura e não fácil – fisicamente definhados, civicamente meio cegos, intelectualmente diminuídos, tecnicamente mal apetrechados e moralmente baralhados. E a senhora ministra pretende é que ninguém chumbe? Ou é de propósito para terem cidadãoes acriticos,mansos e fáceis de enganar?
            Os jovens de hoje, não são piores nem melhores que as gerações que os antecederam, mas têm sido pessimamente orientados e enquadrados. Até acabaram com o serviço militar obrigatório…
            Por isso senhores governantes finem de vez com essa treta idiota de que toda a gente nasce igual ou é igual, pois toda a gente é diferente e cada um tem que fazer o seu percurso. Deve é tentar-se que todos tenham as mesmas oportunidades, mas isso joga-se noutro campeonato. Deixem de meter na cabeça das pessoas que todos podem ser licenciadas em qualquer coisa. Isso representa uma irresponsabilidade e uma impossibilidade.
            Ainda não perceberam que não há boas ou más profissões (e todas são necessárias!) mas sim bons e maus profissionais?Que não interessa haver muitos licenciados, mestrados ou doutorados, mas sim bons, em que o canudo corresponda às aptidões e ao saber? Os outros só lá estão a atrapalhar.
            Sabe, senhora ministra, no que dá todo este descalabro? Eu digo-lhe: no campo individual, quando alguém abandona a escola e for à procura de emprego, vai ter que aí, demonstrar o que sabe e fazer os exames necessários que não fez (e devia ter feito) durante a sua vida de estudante. Sabe porquê? Porque as empresas precisam de ter lucros ao fim do ano e não se podem dar ao luxo de contratar gente incompetente para a função. Ora isto vai ser muito doloroso para quem tem vinte e tal anos e não está preparado para a vida – de pequenino é que se torce o pepino – e muitos não vão conseguir emprego, ou preencher as expectativas que criou ou lhe criaram, com as frustrações inerentes e que não são quantificáveis.
            Finalmente, os mais aptos, que conseguiram por mérito próprio, ou por bom conselho parental (e tiveram posses para isso), escaparam a este marasmo, ao verem-se atolados no pântano que leva três décadas de apodrecimento, não descansam enquanto não abandonam o país.
            Em termos colectivos, o desastre da educação – que gera efeitos para toda uma vida – vai condenar o futuro de Portugal e dos portugueses.
            Por isso, senhora ministra, sorria menos e pense melhor. E já agora diga-nos em que escolas estudam os seus filhos e netos, se os tiver. É só para percebermos se o que a senhora diz, coincide com o que a senhora faz.



[1] RDM, Regulamento de Disciplina Militar
CJM, Código de Justiça Militar

OS PROTESTOS DE VALENÇA E A FALTA DE SENSO

7/4/2010

            Quando escrevo faz três dias que ondeiam ao vento na cidade portuguesa de Valença, centenas (?!) de bandeiras espanholas.
            Tal facto inédito e indecoroso, acontece em protesto por o governo português ter encerrado as urgências nocturnas, nos serviços de saúde daquela localidade e em agradecimento ao facto do autarca da galega cidade de Tuy, logo ter disponibilizado os seus serviços para atender os portugueses que necessitassem.
            Cumpre explicar porque classificamos o que está a acontecer de “indecoroso”.
            Independentemente da justiça dos protestos – e tem que se avaliar caso a caso a razoabilidade dos mesmos – e da legitimidade e legalidade do que se entende fazer – outros elementos a ter em conta, desfraldar bandeiras espanholas,nas circunstancias em que o fizeram (diria, em qualquer circunstância), é insensato, perigoso e uma bandalhice, que desacredita e desfeia quem o promoveu e quem aderiu.
            Há mil e uma maneira de fazer protestos, e não consta que falte imaginação aos portugueses, agora hastear bandeiras adentro de uma fortaleza que há 900 anos defende o respectivo povoado dos ataques de quem durante todo esse tempo se tem mostrado inimigo ou antagonista, é um acto de quem perdeu o norte, está falho de referências e esqueceu valores. Fica mal. E os fins nem sempre justificam os meios.  Acaso imaginam que acto semelhante pudesse ocorrer do lado de lá?
            Que agradecimentos merece o alcaide galego além de um muito obrigado? Ele fez mais do que a sua obrigação? Não lhe sabe bem que lhe fiquem devedores e que os euros em vez de se gastarem do nosso lado, transitem para o lado dele? Haverá de facto alguma filantropia?
            Caros compatriotas de Valença: andaram mal, e tão cedo não se limpam desta ignomínia!
            A maneira mansa e abúlica com que os poderes públicos reagiram ao sucedido é sinal inequívoco de como vivemos numa paz podre e decrépita. A comunicação social acompanha a onda, quando não faz circo no que havia por ter sido tido, como coisa séria e reveladora de que o país está doente. Muito doente. Uma coisa destas, há 30 anos, não acontecia, pela simples razão, de que não passaria pela cabeça de ninguém, sequer, pôr a hipótese de que tal pudesse acontecer!...
            Sem embargo, os poderes públicos e as políticas postas em execução são as principais causas do estado, a quase todos os títulos lastimável, a que chegámos. A ignorância histórica, estratégica, geopolítica, etc., demonstrada pela classe política é aterradora. A inoculação de referências erradas é avassaladora.
            O resultado está à vista de todos e todos os dias.
            As causas próximas destes protestos têm sido o sucessivo abandono do interior do país ao Deus dará. Concentrou-se a vida dos 90000 Km2 que nos restam, numa faixa de 50 Km junto à costa que vai de Braga a Setúbal. Mais a sazonabilidade turística da faixa algarvia (os arquipélagos são outra questão). O interior está deserto pela migração, pela quebra demográfica, pelo estertor da agricultura, pela devastação dos incêndios e pela ausência de indústria. Até os quartéis do Exército fecharam quase todos…
            Restam os serviços públicos, muitas rotundas, alcatrão de passagem e uns minis afloramentos turísticos, dispersos. No Alentejo existem ainda muitos centros de apoio à terceira idade, mesmo assim eles suicidam-se às mãos cheias…
            Tudo isto representa um enormíssimo erro político-estratégico de monta. O resultado é que as populações da raia se têm tentado ligar às economias espanholas, criando acordos transfronteiriços, que os políticos do Terreiro do Paço pacoviamente aplaudem. Ora o interior deve estar ligado ao litoral, não à raia espanhola! Aliás a política de cedência e de ajoelhamento face a Espanha tem sido total e irresponsável.
            O Conde Duque de Olivares, lá no Purgatório onde penará eternamente, informado pelas Moncloa e Zarzuela, do que se está a passar, já disse para não o maçarem mais, pois não consegue acreditar em nada!...
            E como podemos querer que simples cidadãos se comportem condignamente quando tivemos um ministro que foi à Galiza dizer que era iberista e que o próprio governo português prosseguia uma política iberista?; quando o Primeiro-ministro insiste em passar pelo ridículo de falar espanholês sempre que passa a fronteira, e grita Espanha, Espanha, Espanha?; quando o governo português colabora ostensivamente com Madrid relativamente ao TGV (e a tudo!), dando aos espanhóis de bandeja um objectivo que eles perseguem relativamente aos caminhos-de-ferro, desde sempre e que nós conseguimos resistir até hoje?
            Como se pode censurar o simples povo, quando (só para citar um ex. entre centenas), se permitiu que a volta à Espanha em bicicleta, tivesse início em Lisboa, com guardas-civis armados (!?) a fazerem protecção? Que censurar, quando a câmara de Lisboa (tão célere a mandar retirar a bandeira monárquica) antes tinha substituído a bandeira nacional do mastro do alto do Parque Eduardo VII, pelo trapo azul com estrelinhas, da UE? (este facto deu origem a uma queixa de um grupo de cidadãos, entregue na PGR, que respondeu não ter visto nenhum mal no assunto!).
            Por isso não é de estranhar que o silêncio dos filhos de algo, desde o PR até aos líderes partidários, sobre o assunto, seja ensurdecedor! E que ande tudo, o que é autoridade no país sem saber o que há-de fazer e pior do que isso, muitos conformados com este estado de coisas! E onde estão as instituições que se dizem “patrióticas” por estatuto, quem as ouve? Onde está a sua indignação?
            Que é feito da censura social? Quem se propõe mudar a lei para dissuadir comportamentos destes? [1]
            O que se passou em Valência não pode ser considerado um “fait divers”. Mexe com coisas sérias.
            E o modo como tudo se passou e as reacções (que não gerou), podem ser o início do fim de muita coisa.


[1] Só gostaria de ver como reagiriam as autoridades se em vez de bandeiras espanholas, fossem hasteadas bandeiras nazis…