domingo, 28 de novembro de 2010

PORTUGAL: UM PAÍS QUE NÃO SE LEVA A SÉRIO!

27/7/10
e Publicado no Jornal “O Diabo” de 23/11/2010

            É do senso comum e da sabedoria popular que um qualquer indivíduo não se deve levar demasiado a sério e conseguir, até, rir-se de si próprio. Isto pretende significar que ninguém se deve julgar acima do que é, ou aquilo que não é, não se tornar obcecado por qualquer ideia ou pretensão e ser suficientemente saudável para, descontraidamente, se amenizar com eventuais disparates que pensou ou realizou.
            Isto não quer dizer que não leve nada a sério, que abdique nos princípios ou se curve a indignidades. O mesmo se pode aplicar aos países com a diferença, significativa, de que aos órgãos do Estado, não se puderem admitir, institucionalmente, algumas atitudes desculpáveis em indivíduos.
            Parece que o estado Português tem estes conceitos algo baralhados o que induz, parte da sociedade, a acompanhá-los nos erros e nas atitudes.
            Alguns exemplos ilustram o ponto.
            Não sei que país haverá no mundo, em que responsáveis do Estado, vêm publicamente afirmar que as forças Armadas vão enviar “espiões”para um determinado teatro de operações.
            Se há, não é exemplo a seguir; pois nós fizemo-lo há escassos dias e veio escarrapachado nos jornais.
            Após larga controvérsia, que durou anos, o primeiro de dois novos submarinos, que se vão tornar “NRP’s”, isto é Navios da República Portuguesa, aumentados ao serviço da Armada, foi lançado à água na Alemanha. Nenhum membro do governo esteve presente e o evento passou despercebido na comunicação social.
            Aquilo que devia constituir uma festa e ser orgulho nacional, quase parece vergonha por um parente indesejado. Só a Marinha se porta à altura, não podendo fazer mais. Qualquer troca de seringas entre presos drogados ganha mais relevância social do que este notável aumento da capacidade militar de nação. Ou nos enganamos muito, ou a recepção dentro de poucas semanas do “Tridente” em Lisboa, vai continuar nesta maré…
            Outro dia passeámos na rua principal de Beja. Esta rua, com algum favor, estende-se por uns 500 metros. No percurso contámos cerca de uma dezena de lojas chinesas. É assim no país inteiro, mas no interior nota-se mais. Nada nos move contra a comunidade chinesa mas sabe-se dos problemas económicos e financeiros por que todos passamos. Deste modo torna-se incompreensível que o Estado Português dê incentivos de vária índole para o licenciamento destes negócios. Tanto mais que os chineses integram-se pouco na sociedade portuguesa (é célebre o comentário que corre, de que nunca ninguém assistiu a um funeral de um dito cujo …); o “negócio” é apoiado pelo estado chinês e obedece a uma estratégia – extensos armazéns de produtos chineses encontram-se sediados em Badajoz, por ex., e não consta que nos concedam quaisquer reciprocidade. A extensão da “malha” é de tal forma tentacular que, entre outras coisas, pode facilmente disfarçar o maior sistema de informações que alguma vez se montou. Enfim, divagações de um tolo…
            Angola. Depois de, filantropicamente, termos perdoado a dívida de todos os territórios a que levianamente concedemos a independência misturados com sentimentos de culpa “colonialistas”, sem qualquer razão de ser, e de, inclusivé, termos alienado, estupidamente, todos os nossos interesses em Cabora Bassa; insistirmos numa cooperação militar e civil que se resume em nós darmos e eles receberem (e nunca agradecem) e mais umas quantas pérolas que o fim do “ex-império” teceu, e eis que nos lançamos no mercado angolano.
            Mergulhámos bem, pois é do interesse das partes, melhor dizendo, dos povos. E lá fomos de boa vontade, sempre com a amizade lusa a modelar a coisa. Esquecemo-nos, contudo, que negócios em Angola passam todos, ou quase todos, pelos eleitos do partido no Poder, com os constrangimentos que tal, por si só, acarretam - ao contrário do que se passa com o investimento angolano em Portugal.... E quando, justamente, as empresas portuguesas querem ver-se ressarcidas do investimento ou do negócio efectuado vêem as suas expectativas frustradas pois, a parte angolana … não paga!
            Ao fim de uns anos arranjou-se um expediente para resolver os calotes: bancos portugueses emprestam dinheiro para as autoridades/empresas angolanas, nos pagarem o que devem…
            E nós em vez de lhes acenarmos com uns mísseis (ainda chegamos para isso!), enviamos-lhes o PR, que entre sorrisos e abraços confirmou que Deus estava com os anjos.
             A maior navegação de todos os tempos, assim tida a nível mundial, foi feita por um português. Estamos a falar da primeira viagem de circum-navegação do globo e de Fernão de Magalhães. Não só ele, como os 22 portugueses que o acompanharam eram dos que mais conhecimentos possuíam, a bordo. Pois para além deste notável navegador ser quase olimpicamente ignorado pela historiografia nacional, a única estátua dele existente na terra que lhe deu o berço, foi oferecida pela República do Chile…
            Pior sorte tem Vasco da Gama, executor do feito, tido como maior, da História Pátria: ao que sabemos está reduzido a um busto em Sines, depois de uma tentativa frustrada de lhe erigir qualquer coisa na Vidigueira. No local aparentemente eleito para o efeito, acabou por ficar uma garrafa de vinho, sinal irrefutável de que andamos… etilizados.
            E como a actual União Indiana nem pode ouvir falar em tal Gama, lá se vai a esperança que um governo da estranja tome sobre si o que há muito nos cabia a nós fazer.
            Seria, esta, talvez, uma iniciativa cívica e patriótica, que colhia bem em qualquer português digno desse nome. Mas parece que não estamos para aí virados como prova a ideia posta em marcha por um grupo de quatro oficiais do quadro permanente com a idade provecta que os habilita à promoção a “avô”, e que pretendem entregar no Parlamento uma petição a fim de se reabilitar o nome de João A. Ferreira de Almeida, soldado do Corpo Expedicionário Português.
            Quem era então este aparente injustiçado?
            Nada mais nada menos do que o único militar condenado em tribunal militar,e fuzilado, por crime de traição à Pátria, em 1917, na Flandres, durante a I Grande Guerra!
            Qual a justificação para tal excelsa ideia, que já colocou em choro compulsivo algumas pedras da calçada? – e estamos a citar o Correio da Manhã de 21/7/10, que deu a notícia – pois a “comemorarmos o centenário da República e perante os valores de hoje, faz todo o sentido que lhe seja concedido o perdão”.
            Não deixa de ser irónico: o militar morre às mãos da tal República que se quer incensar, regime que tem as mãos manchadas de sangue e que se fundou num crime de regicídio e na acção de verdadeiros terroristas políticos. E que não tem à luz da História e dos homens, uma única justificação que a desculpe.
            De facto – et voilá – nós, como país, não nos podemos levar a sério e afinal a razão é simples: deixámos de ser sérios.
            E isso não dá vontade nenhuma de nos rirmos.

PORTUGAL, O PCP , IGNORÂNCIA, DISTRACÇÕES E MEMÓRIA CURTA

20/11/08

“Fala-se tanto da necessidade de deixar um planeta melhor para os nossos filhos, e às vezes esquece-se da urgência de deixarmos filhos melhores para o nosso planeta”
Autor desconhecido

            Alguém se lembra, hoje em dia, do verdadeiro PCP? Ou seja aquele que foi aparentemente derrotado em 25 de Novembro de 1975?
            Certamente que muito poucos cidadãos se lembram. Alguns destes, mais conscientes e conhecedores da vida e dos homens, têm-se interrogado sobre como é ainda possível, que no século XXI, depois da derrocada da URSS e da falência do modelo comunista em todo o lugar em que foi implantado, o PC tenha uma expressão eleitoral tão elevada num país como Portugal – a que, ainda por cima, se tem que juntar a chamada extrema esquerda.
            Creio bem que só por distracção haverá lugar a qualquer tipo de admiração neste âmbito.
            Ora atentemos.
            O PCP não saiu derrotado no 25 de Novembro. Essa assumção resulta de um erro profundo de análise. O que o PC fez foi uma retirada estratégica brilhante, diga-se de passagem, disimulando-se na vida nacional e conseguindo reter respeitabilidade democrática.
            O Partido conseguiu atingir o objectivo principal que tinha – melhor dizendo, de que teria sido incumbido – e que foi a entrega do Poder, aliás num espaço de tempo muito curto, de todos os territórios ultramarinos portugueses, com excepção de Macau, nas mãos de partidos marxistas e apenas nesses, e sem qualquer referendo às populações, que  sabiam  não poder ganhar.
            A URSS averbou, assim, a sua última grande vitória na chamada “Guerra Fria”.
            No território europeu de Portugal com excepção dos arquipélagos, por via da religiosidade católica da maioria da população e por serem ilhas, o PC conseguiu subverter todo o edifício do Estado e virar do avesso a sociedade portuguesa, pondo-a à beira da guerra civil . Estamos em crer que a nível da cúpula partidária ainda se alimentou a esperança da tomada pura e dura do Poder, em Lisboa, mas a realidade geopolítica desaconselhava vivamente tal aventura e Moscovo percebeu isso rapidamente.
             E aqui temos a primeira grande razão para que o PC mantenha a sua votação: a “decalage” no tempo, isto é, enquanto os partidos comunistas por essa Europa fora foram sofrendo a erosão do tempo, o PCP apenas surgiu em força por alturas de 1974/5, já que a repressão que o anterior regime lhe moveu praticamente o impediu de actuar.
            Acresce o facto de, na sequência do 25/11/75, altura em que se poderia ter desmontado toda a previsível estrutura clandestina, os poderes emergentes vieram afirmar que o PC fazia falta à democracia portuguesa. O país está a pagar tal insensatez muito caro. Esta ideia é incompreensível, já que não há exemplo  no mundo, de um partido comunista que tenha sido governo  ter tido,alguma vez, um comportamento democrático.
            O PCP não é um partido como os outros. É um misto de estrutura militar e de seita religiosa , já que a sua doutrina funciona muito mais como uma espécie de religião.
            Tem hierarquia, disciplina, organização. Definem objectivos e estratégias; têm  princípios  e um conjunto de funcionários profissionalizados e coesos (um estado maior…).
            Os restantes partidos ao pé deles são uns aprendizes de feiticeiro, ainda por cima cheios de trapaceiros, palermas e oportunistas.
            O PC não ganha, porque a grande maioria do povo português é visceralmente contra o que defendem; porque o comunismo é avesso à natureza humana e é incompetente em termos económicos e sociais. E o comunismo revelou-se sanguinário na sua acção.
            Além disso não se pode esquecer que o PCP, durante toda a sua existência, teve um papel anti-patriótico defendendo objectivamente os interesses de uma potência estrangeira que se revelou ser inimiga de Portugal: a URSS.
            Mesmo assim ainda conseguiu juntar no funeral desse herói do Kremlin, chamado Álvaro Cunhal, uma multidão de cerca de 100.000 pessoas.
            Não se deve menosprezar o PCP e nunca se sabe o dia de amanhã.
            O PC é um multiplicador de sinergias. Em 1974, por exemplo, antes e após o golpe de estado de Abril, constituindo um grupo absolutamente minoritário no País e no seio das FAs, infiltraram-se de tal maneira no MFA [1] que conseguiram passar a dominar os acontecimentos a seu belo prazer, até 25 de Novembro de 1975. Um facto que irá ficar, certamente, nos anais das revoluções e que convém não ser esquecido.
            O PCP não é apenas um partido, é um pequeno estado dentro do estado.
            O PC não manda no sentido em que não ocupa nominalmente as cadeiras do Poder. Mas manda no sentido em que condiciona tudo o que se passa. Começa na constituição de 1976, elaborada maioritariamente sob a sua influência ideológica e cuja matriz central ainda se mantém até aos dias de hoje, mesmo depois das revisões a que já foi sujeita.
            O PC fomenta constantemente o descontentamento (qualquer que seja o governo) e depois cavalga a insatisfação. Cria estruturas paralelas de Poder; inventa partidos satélites, disfarça-se em associações, possui gráficas,redes de destribuição,condiciona a historiografia e domina os principais sindicatos. Dispõe, constantemente,  militantes seus em lugares chave, desde o topo da hierarquia do Estado até às mais pequenas juntas de freguesia. Estamos convictos de que o PC possui o melhor serviço de informações que existe em Portugal, muito superior ao SIS, SIED e SIM [2] juntos e estão preparados para passar à clandestinidade no prazo de 24H.[3]
            O PCP não é um partido é “o” Partido e merece a designação.
            A nível dos órgãos do Estado, dos Serviços de Informação, das Forças de Segurança, das FAs, etc., e até da Igreja, ninguém parece estar preocupado com a sua acção. Vivem na doce ilusão de que é tudo “democrático”ninguém sabendo ao certo o que entender por semelhante expressão.
            O PCP só se vence com doutrinação, combate ideológico, humor, leis adequadas, determinação e, claro, forças de contenção para qualquer tentativa espúria de passagem do Rubicão. Porque passar o Rubicão está-lhes na massa do sangue.
            E nem sequer é difícil, porque o modo de actuação e doutrina estão escritos são postos em prática da mesma maneira, em qualquer parte do mundo e carecem de flexibilidade de actuação. Por isso é que a tentativa de “renovar” (lembram-se dos renovadores?) o partido está votada ao insucesso. Qualquer reforma no PCP destrui-lo-ia e teria que se passar a chamar outra coisa qualquer.
            Ora tudo isto faz com que o PC tenha um Poder real desmesurado relativamente à sua expressão eleitoral.
            A última razão porque se têm aguentado tão bem reside no sofisma que têm conseguido manter, de terem sido os campeões da luta anti fascista (olha se têm ganho?!).
            As “vítimas” mortais de tal acção – onde confundiram constantemente, ou não distinguiam , a luta política contra o regime do Estado Novo, com os interesses da Nação Portuguesa, não ultrapassam as três dezenas, a maioria das quais tinha praticado acções violentas. Isto para um periodo de cerca de 50 anos. Certamente que tais vitimas (e é sempre lamentável haver vitimas) não representam mais do que uns segundos de assinaturas de condenação à morte do Kamarada José (Estaline), num dos seus dias melhores...
            A lavagem ao cérebro, as mentiras matraqueadas “ad nauseum” e as actuações desvairadas de tantos, nos anos de 1974/75 – e que continuam em versão soft -, condicionaram psicologicamente a grande maioria da população que esta continua vergada intelectualmente  pelo medo e pela ignorancia.
           E a única coisa que aparece clara e como expoente da actividade do PCP é a festa do Àvante. Tudo o resto é nevoeiro …
            Sendo a luta política, à superfície, travada no seio dos partidos políticos, aquela que, aparentemente, é mais importante, ocorre atrás das “cortinas”, fundamentalmente entre o PCP, a Opus Dei,  as diversas maçonarias clássicas e as mais finas e mais modernas, “organizações de Poder”, financeiro (e não só) internacionalista.
            Perante tudo isto o povo português, privado de uma liderança patriota, faz décadas, vive aparvalhado, privado de educação e informação e confundido pelo dilúvio e propagana mediática.
            Tem havido até agora algum pão e muito circo. A questão é o que irá acontecer quando só houver circo.


[1] Movimento das Forças Armadas.
[2] Serviço de Informações de Segurança; Serviço de Informações e Estratégia de Defesa e Serviço de Informações Militares.
[3] Queremos afirmar que não lemos ainda o livro da Zita Seabra.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

PORTUGAL: A UNIDADE QUEBRADA

5/6/2010
            Não deixa de ser engraçado assistir ao que se passa.
            Instalada a “Democracia” por alturas de 1976 – ou o que quisermos convir por tal – logo surgiram partidos políticos como cogumelos. Passados uns tempos a maioria desapareceu, restando cinco com assento parlamentar e uns apêndices que normalmente afloram aquando de eleições.
            No entretanto, ocorreram várias tentativas para a formação de outros partidos, que tiveram vida efémera. É que para se montar uma organização destas é preciso muito dinheiro e quem se mete nesta aventura acaba, por norma, incompatibilizado com o mundo e… cheio de dívidas.
            Daqui se infere que a “democracia” escorrega facilmente para a plutocracia, ou seja o regime dos ricos. E a partidocracia existente vai, a pouco e pouco, blindando o sistema.
            À volta dos cinco partidos -  a sociedade está longe de estar representada! – tem, girando a vida política nacional, relegando-se todas as restantes instituições para quinto plano. Com a agravante de que a maioria dos expoentes virem, apenas, da área do Direito, disciplina que, aparentemente, é mais compatível com a prática política…
            Costuma ouvir-se dizer que os partidos políticos são enformadores, quiçá estruturantes, da Democracia. Pois se são, teremos que importar outros, pois os que temos além de não estruturarem nada, partem (não fossem eles “partidos”) tudo à sua volta e a única coisa que geram são empregos para as suas clientelas. Em vez de serem escolas de civismo, transformaram-se em exemplo de más práticas e trafulhices constantes.
            E assim temos vivido, ainda por cima com o pouco que produzimos e com o muito que nos emprestam.
            Com o resultado das eleições, de que usamos e abusamos – nos últimos 200 anos houve 171 governos, e lembro que nos 48 anos do Estado Novo, votava-se pouco – sai um partido com maioria absoluta ou relativa, tendo que governar, neste último caso, em minoria ou sujeitar-se a uma coligação com outro(s) partido(s). Em ambos os casos as coisas correm, por norma, mal. No primeiro caso são acusados de se instituírem em “ditadura” da maioria – agravado pelo facto da abstenção ser o “partido” mais votado – e são impiedosamente criticados por tudo o que façam; no segundo caso gera-se, rapidamente, a maior das barafundas, sendo difícil obter “quórum” seja para o que for.
          Independentemente de tudo, predomina a lógica do bota abaixo, do dividir para reinar, da caça infrene ao voto, da tentativa de condicionamento dos “media” – no fundo, de tudo o que mexe! – etc. O objectivo é só um: alcançar ou manter o Poder. E é este objectivo e exclusivamente este, que as lideranças partidárias sujeitam tudo o resto. Neste âmbito é fácil perceber que Portugal e a nação dos portugueses é apenas o objecto, não a finalidade.
            Aqui é que bate o busílis da coisa.
            Portugal é hoje um país esfrangalhado. E já o é desde as invasões napoleónicas que é o momento marcante que deu início às nossas desgraças contemporâneas. Ora nenhum país tem futuro se mantiver no seu seio divisões insanáveis.
            Agora o “sistema” tem outra curiosidade. Quando a situação piora, quando há crises, quando se percepcionam cataclismos sociais e políticos (para já não falar em ameaças de guerra), logo aparecem catadupas de vozes a clamar pela “unidade”, por “acordos de regime”, pela “base alargada de apoio”, pelo “consenso institucional”, etc.
            Ou seja, clamam pela União Nacional… corrijam-me se estou enganado.
            Ora isto é incompatível com o sistema de partidos, pois é contrário à lógica partidária, como já vimos. E a manutenção de um acordo é apenas conjuntural e limitado no espaço e no tempo. Mal comparado e usando uma linguagem acessivel ao vulgo, era como se os clubes de futebol abdicassem dos seus interesses em favor da selecção nacional…
            Se passar a haver confluência de políticas, alianças, acordos mais ou menos pontuais, etc., entraremos no campo dos paradoxos e das incongruências. Isto é, se um partido concorda com outro, deixa de haver justificação para um deles existir; mas se não houver convergências em coisas sérias, o poder nacional sofre, o país não se entende, não há resultante capaz.
            Se, por outro lado, as divergências não são grandes, também não se justificam os partidos. Um qualquer conjunto de cidadãos, senta-se a uma mesa, discute e chega a uma conclusão. Quem tiver autoridade, aplica. Se por acaso houver um partido que defenda um conjunto de ideais, não miscíveis com a restante população, nem com a matriz enformadora da nação, estão criadas as condições para uma guerra civil e, ou, a “auto- determinação” de uma parte do país.
            Ainda a piorar as coisas existe um fenómeno comum a todos os partidos, representado pelas “tendências”, os “grupos”, as guerrinhas entre personalidades, etc., que baralham ainda mais as coisas e desacreditam o sistema. São, porém, muito do agrado dos comentadores e analistas políticos, assim como dos empresários da comunicação social… O mal de uns é sempre o bem de outros.
            O sistema, tido por democrático, baseado neste tipo de partidos, só funciona,também, enquanto houver dinheiro. Nenhum cidadão que vá de férias a Cancun, mesmo que seja com cartão de crédito, se revolta contra nada... Mesmo deparando – como tem sido bastos os casos – com quebras de princípios éticos, criminalidade vária ou subversão de valores. “Ele rouba, mas faz”, pode considerar-se a síntese do que quero ilustrar.
            O “sistema”, por outro lado, não se regenera por si, como a História nos ensina, mas poucos são os que a estudam e interpretam.
            Convém, pois, tentar atalhar a situação e fazer as rupturas necessárias enquanto existe capacidade para controlar algumas das variáveis existentes.
            Quanto mais tarde se actuar mais custos haverá. Infelizmente a politica parece ser a única actividade humana onde não se pode ter razão antes de tempo.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

OS ÚLTIMOS EPISÓDIOS DA “SAGA” DO VIGÁRIO CASTRENSE!

15/7/08
“Possui demasiada cultura para a inteligência que tem”
Salazar, referindo-se ao bispo do Porto D. António Ferreira Gomes

D. Januário Torgal Ferreira
Há uns meses atrás o Vigário Castrense D. Januário Torgal Ferreira atingiu a venerável idade de 70 anos. Na sequência da queima de neurónios das mais elevadas figuras politico-militares, relativamente à definição do estatuto futuro a atribuir a S.Exª Reverendíssima, resultante do vazio legislativo e nó górdio homérico em que está envolta as funções exercidas, foi produzido um despacho.
Este despacho está assinado pelo preclaro ministro da defesa nacional e tem um número,o 89 e uma data, a de 30 de Maio de 2008.
A diplomacia do Vaticano – estamos em crer -, tida como a de mais fina jurisprudência, acuidade substantiva, minúcia beneditina e, quando necessário, ambivalência jesuíta, burilada por 20 seculos de exercicio,não faria melhor.
O MDN começa por equacionar a questão em termos legislativos e faz, de seguida, a distinção entre o munús pastoral, que deve obedecer ao Direito Canónico e que se mantém até à renúncia do Bispo, e a chefia dos serviços de assistência religiosa nas FAs que “deve ser assegurada por titular que reúna de facto e de direito as condições necessárias para assegurar essa chefia até à conclusão dos trabalhos de revisão do Estatuto de Assistencia Religiosa nas FAs com vista a adaptá-lo ao novo enquadramento juridico decorrente das alterações, ao nível do direito interno/militar, bem como ao nivel do direito internacional”, “maxime” o decorrente da regulamentação da Concordata e dos novos estatutos do Ordinarato Castrense. E acrescenta “Assim e enquanto decorrer o estudo e elaboração do novo quadro juridico/estatutário do Serviço de Assistência Religiosa nas FAs e de Segurança, de modo a harmonizá-lo com a legislação canónica,e até à aprovação do novo regime juridico que lhe está associado, deve a Chefia dos Serviços... ser assegurada nos termos legalmente previstos, pelo Vigário Geral Castrense Adjunto... CMG Padre Manuel da Costa Amorim,...”.
O despacho podendo parecer dúbio, a nós nos parece “hèlas”, claro.
Ou seja o senhor ministro, e bem, demarca-se da condição pastoral do bispo, que só depende do Papa e que se pode manter até à renuncia que ele, ministro aparentemente deseja, sem o invocar. Diz, contudo e claramente, que nos Serviços de Assistência Religiosa manda ele, ministro, e tal passa a ser feito por delegação no CMG Padre Amorim,até  “ser assegurada por titular que reúna, de facto e de direito, as condições...”. Fica, sem embargo pendente a situação quanto às Forças de Segurança....
No dia 5 de Junho – não sendo difícil, divisar quem para lá enviou a info -, a Agencia Ecclésia (on line), trazia uma notícia sobre o assunto cujo significativo título era o seguinte: “Despacho confirma D. Januàrio como Bispo das FAs”.
E vai por aí fora pegando no despacho do ministro e virando-o de pernas para o ar.
As autoridades eclesiásticas portuguesas estão na confortável posição de sobre este assunto não terem de tomar qualquer atitude. A não ser, eventualmente por canais próprios (formais ou nem tanto), queiram chegar a Roma, à figura do Cardeal Ré, que é quem está directamente ligado ao caso.
Os chefes militares, cuja formação os leva a perceber melhor os despachos do ministro Santos Costa, do que os considerandos do Cardeal Richelieu, também entenderam que o sr. Bispo estava de saida e daí que o chefe da FA, a que se seguiria certamente o da Armada, já estava a preparar um repasto de despedida, sendo surpreendido pelo putativo homenageado, que não senhora, obrigado, mas não é preciso pois estou de pedra e cal.
E até o chefe do Exercito o resolveu condecorar com a medalha de D. Afonso Henriques, assumindo um louvor (de despedida?!), quase de “Valor Militar com palma”. Exageros que são escusados e me permito não explicitar porquê.
Já me permito trazer à colação a realidade do sr. Bispo ser, por inerência de funções, Major General graduado e tal não aparecer referido no louvor, ou seja foi apenas louvado o bispo e não o militar. O que bate certo com o facto de há cerimónia da condecoração estarem todos fardados menos o Bispo. Não consta que alguém tenha reparado.
E lá foi o sr. Bispo disparado, no dia 4 de Julho, dar uma entrevista sobre o lançamento de um livro comemorativo de uma antiga figura da Igreja que ocupou o Paço Episcopal da Invicta e que se especializou em escrever cartas a um tal Salazar. Não pôde, por isso, presidir à missa (aliàs repetida), evocativa do aniversário da FA.
Assim continua a saga de S.Exª Reverendissima. Agora em écran virtual.

sábado, 20 de novembro de 2010

O REGULAMENTO DE DISCIPLINA MILITAR

28/01/09

O Regulamento de Disciplina Militar, conhecido na gíria como RDM, está a ser revisto pelo Ministério da Defesa Nacional (MDN), com a contribuição dos Ramos e, supostamente, pelas associações de militares.
O RDM é um dos mais notáveis documentos legais que até hoje me foi dado conhecer. “Nasceu” em 2 de Maio de 1913 e teve a sua última revisão em 1977. Passou a prova do tempo, tanto em situação de paz, crise e guerra e foi aplicado a dezenas e dezenas de gerações de oficiais, sargentos e praças.
É normal que tendo havido, entretanto, várias revisões da Constituição da República se tenha que actualizar o RDM para o tornar conforme a essas alterações – e estamos longe de estar seguros da adequação e bondade das mesmas. Quanto ao documento fundamental para a manutenção da ordem e disciplina nas FAs, não nos parece que sejam necessárias outras.
Ainda não lemos nada sobre a documentação em análise, mas arriscamos a dizer que fácilmente antevemos quais elas vão ser, tendo em conta a prática dos usuais intervenientes neste ambito e o politico e o estupidamente correcto que por aí medra.
        Se a actual revisão visar sobretudo:
   - aproximar o mais possivel o RDM dos regulamentos existentes na admnistração pública;
   -  “civilizar”a “tropa”;
   -  menorizar a todo o gáz as referencias ligadas à condição militar;
   -  eliminar tudo o que cheire a “virtudes e deveres militares”;
   -  impôr limitações à cadeia hierárquica;
   -  deminuir os laços da solidariedade militar;
   -  obstaculizar o dever de obediencia;
   -  relativizar tudo;
A consequência de tudo isso será  a destruição de um instrumento indespensável à manutenção da disciplina o que afectará gravemente a operacionalidade de qualquer unidade militar.
É difícil de descortinar,também, a existencia de alguma entidade ou individuo que se consiga,ou queira, opôr-se a este descalabro, com sucesso.
A única novidade a ser intoduzida – resta saber com que extenção - será a inclusão de normas que visem condicionar a capacidade dos militares na situação de reserva e reforma em intervirem em termos civicos,nomeadamente quando aquela possa tomar o cariz de manifestação pública.
Quando a versão final do documento estiver aprovada estará consumada mais uma etapa para a completa desarticulação da Instituição Militar.
Mas, claro, isto é apenas mais um “exagero”da nossa parte.

O FIM DOS COLÉGIOS MILITARES?

27/10/09

A amizade e o espirito de corpo no CM
            O Colégio Militar (CM) é, entre as instituições existentes, uma das mais antigas da nação. Tem provas dadas, lastro, tradição e deu ao país e às Forças Armadas um conjunto alargado de cidadãos de qualidade, que se distinguiram nas mais diversas profissões.
            Mas entre os portugueses existe uma especial apetência para deitar abaixo, num credo, aquilo que levou tantas gerações a edificar.
O último caso que nos lembramos foi a extinção do Supremo Tribunal Militar fundado, em 1641 e que só perdia em antiguidade – creio –  para as Misericórdias. Uma cretinice alvar!
            É, pois, típico na sociedade portuguesa não se atalhar os problemas a tempo. Finge-se que não se vê e assobia-se para o lado, numa demonstração repetida de que o “rei não precisa de usar roupa”. Tal facto não acontece por acaso e encontra fundamento na desconfiança com que são olhados aqueles que levantam problemas ou põem dedos em feridas. São logo encarados como “portadores de más notícias” e como tal equiparados a “leprosos”. Deste ponto a tentar-se, objectivamente, prejudicá-los na sua vida profissional e até privada, vai apenas um passo.
            Do mesmo modo a frontalidade e a lealdade são vistos como afrontamento e impertinência…
            Estes comportamentos não são de agora, mas de sempre. A natureza humana é muito imperfeita.
            Os problemas tendem assim a deslizar de uns para os outros, sucessivamente, até que rebentam.
            Os problemas do CM começam dentro da própria Instituição Militar. A primeira grande questão tem a ver com o facto, de que há muito a esta parte, se dever ter encontrado uma fórmula equilibrada para os três estabelecimentos militares de ensino secundário dependerem do CEMGFA, com os custos repartidos pelos três Ramos, em vez do ónus recair exclusivamente no Exército.
            Depois é necessário que exista um orçamento adequado para gerir e manter três colégios de qualidade com ensino personalizado e um conjunto de actividades que mais nenhuma escola pública, ou privada, dispõe no país. Neste âmbito tem que se alterar também as restrições ao contratamento de civis, nomeadamente vigilantes – uma das causas, seguramente, dos problemas analisados pela PGR – restrições estas que já levam inclusive a que se tivesse que passar a contratar empresas em outsourcing para servir as refeições,limpeza,portaria e jardinagem. Noutro ambito é fundamental que a lei seja modificada para permitir a mobilidade e reconversão de trabalhadores.
            Os problemas sociais que a sociedade actual comporta e a destruturação acelerada das famílias, aumentou exponencialmente os problemas do foro psíquico e social o que exige determinados valências, que os meios ao dispôr dos colégios, dificilmente comportam. Não é a mesma coisa, por exemplo, ter alunos que são enquadrados fora do colégio em termos familiares e outros que pura e simplesmente são “despejados” nos internatos.
            Arranjar instrutores e oficiais do Corpo de Alunos é outro problema. Além de nem todos terem perfil para prestar serviço num estabelecimento deste tipo, muitos não querem passar por lá, pois preferem outras opções profissionais. Além disso o Exército preparou oficiais para missões distintas – o seu “core bussiness” -  que custou muito dinheiro e esforço, aptidões essas que não têm aplicação nos CM. Por outro lado hà questões do foro pedagógico de que é preciso dar a conhecer a oficiais que vão lidar com jovens dos 10 aos 17 anos.
            Acresce a tudo isto que existe dificuldade de recrutamento de novos alunos e só uma muito pequena percentagem destes é que depois vão concorrer às Academias Militares.
            As tradições académicas neste tipo de escolas  têm vantagens evidentes – embora hoje em dia não seja politicamente correcto admiti-lo – mas que, para serem adequadas, necessitam de organização e supervisão. E estas não comportam qualquer tipo de agressão ou actividades indigna de um ser humano escorreito,que devem (e já são) ser excluídas e punidas.
            Problemas existem e são mais que muitos,como decorre da natureza humana, por isso devem ser atalhados a tempo, antes de saírem fora de controlo ou causarem danos irreparáveis.
            Com isto dito, necessário se torna ter a consciência que a situação dos colégios militares está a anos-luz para melhor do que a generalidade das escolas ou colégios secundários, de todo o país, cujas maleitas não caberiam descritos nas páginas de qualquer jornal ou revista. 
            Agora vamos à parte mais séria da questão. Com a Instituição Militar em diminuição constante e aperreada em constrangimentos humanos,materiais e financeiros,  conjugam-se a nível do país, várias forças para atacarem os colégios militares e entre eles, especialmente o CM.
            Em primeiro lugar o espectro partidário que vai do PS  à extrema-esquerda odeia, em termos ideológicos, a ideia da existência de colégios militares. Causa-lhes até erupções de pele e outros fenómenos do foro psicossomático. Com uma nuance: o PCP não hostiliza (porque sabe o que anda a fazer) e não lhe desagradaria ter colégios militares, desde que, obviamente lá se ensinasse o materialismo dialéctico, o socialismo científico e o internacionalismo proletário.
            Fazia parte do manifesto eleitoral do PS quando foi formado – é bom lembrar – a extinção dos colégios militares. O PS aliás, dá-se mal com tudo o que cheire a fardas, autoridade e disciplina. Os bloqueiros estão muito activos, no momento. São uns infelizes desorientados, nunca construíram nem construirão coisa alguma, só sabem atear fogos. Ouve-se dizer que odeiam a sociedade, eu penso que se odeiam a si próprios.
            Do PS para a direita, pura e simplesmente não existe ideologia: sente-se com a carteira e pensa-se com as tripas.
            Estamos conversados, portanto.
            A seguir temos a questão da especulação imobiliária. Os colégios ocupam terrenos privilegiados, novamente com destaque para o CM, cerca de 13 hectares em zona de grande valor. Ora isto representa milhões e milhões de euros; oportunidades de negócio para amigos, eventual atenuação de dívidas camarárias,chorudos financiamentos, etc., enfim o paraíso para os do costume.
            Perante isto, que valem três colégios cuja mais valia é lançarem no mercado de trabalho ou nos cursos superiores, umas dezenas de cidadãos com formação de elite que tanta falta podem fazer ao nosso desfigurado país? Acertaram, são perfeitamente dispensáveis!
            Finalmente, teremos que voltar à doutrina e à ideologia (o mais importante de tudo). Em alfurjas secretas e discretas, combinam-se estratégias, orientações e objectivos. Ora os valores ensinados e instilados nos colégios militares (até ver), são valores patrióticos, de carácter e honradez; valoriza-se a família, o trabalho, as instituições. A religião é respeitada, os heróis são venerados, a nação está acima dos partidos, o grupo prefere ao indivíduo sem estrangular a individualidade, etc.
            A liberdade sendo um conceito absoluto tem uma aplicação relativa, a caridade prefere à fraternidade e a igualdade resume-se apenas às oportunidades, pois todos são diferentes. Existe hierarquia, organização e autoridade. Tudo isto gera uma ordem. Esta ordem liberta mais do que oprime.
            Ora tudo isto forma cidadãos considerados perigosos, para os tais das alfurjas.
            Julgo ter sido suficientemente explícito.
            Os colégios militares não devem acabar. Mas podem tentar fazê-lo.
            Convém pôr as barbas de molho.

UM OÁSIS NO “DESERTO” PORTUGUÊS: O COLÉGIO MILITAR

Março de 2008
“Por cada pedra daquela fortaleza, arriscaria um filho …”
“Eu vos ponho no caminho da Honra, está agora em vós ganhá-la.”
D. João de Castro, a seu filho, enviado em socorro de Diu

            O Colégio perfaz no dia 3 de Março a invejável e provecta idade de 205 anos.
            A reportagem que passou na SIC, no dia 17/2, representou uma boa prenda de anos. A peça televisiva está muito bem e demonstra um profissionalismo que não estamos, infelizmente,habitàdos a ver, em trabalhos feitos sobre a Instituição Militar. Além de ter captado a essência das coisas, não se vislumbra qualquer tipo de manipulação. E o mais extraordinário é que conseguiram perceber e transmitir, aquilo que está para além da matéria: a Alma do Colégio! Foram honestoe e competentes. Bem hajam!
            Apesar de ser suspeito, o filme comoveu-me. E que exemplo para o País inteiro!
            Ficou visto e claramente visto, que ali, no colégio Militar, serve-se, enquanto a generalidade do país negoceia; ali trabalha-se, no país procura-se emprego; ali defendem-se Princípios, no País, gere-se conveniências; ali acarinham-se as tradições, o País dobra-se a modas estranhas; ali há ordem, no País há clamor e disensão; ali há hierarquia, disciplina e organização, o País há muito que não sabe o que é isso; ali estuda-se e formam-se homens na sua plenitude, no País a Educação é um granel; ali existe preocupação com o produto acabado, o País preocupa-se com as estatísticas da U.E.; ali há exigência e rigor, no País há bandalheira; ali o conjunto prevalece sobre o indivíduo; o “nós” sobre o “eu”, no País corre infrene, o individualismo feroz; ali a responsabilidade não é uma palavra vã, no País é desconhecida; ali há espaço para tudo, no País o espaço é um sufoco; ali o passado, o presente e o futuro harmonizam-se, no País impera a descontinuidade a força centrífuga e a falta de memória colectiva.
            Finalmente, no Colégio Militar, Portugal é tido como um ente superior, intangível, que se aprende a amar. No País, Portugal está a ser alienado a patacos.
             Os exemplos podiam continuar. O Colégio é constituído por homens, por isso não é perfeito, não está imune a erros, nem acima de críticas. Mas auto-avalia-se e corrige-se. Tem obra feita e apresenta-se de cara lavada.
            O nosso “pai” Afonso Henriques teria, certamente, orgulho no Colégio Militar… É preciso agora dar também a mão aos seus homólogos Pupilos do Exército e Instituto de Odivelas e encontrar-se uma solução adequada que salvaguarde o seu futuro e não imponha sobre o Exército a exclusividade do ónus da sua sustentação.
Como o filho de D. João de Castro os alunos do CM, foram sempre postos no caminho da Honra. E neles esteve sempre o ganhá-la.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

SAIR DA UE: UMA URGÊNCIA POLÍTICA E UMA NECESSIDADE ESTRATÉGICA

16/7/10

“Por um lado nos cerca o mar e por outro temos muro no reino de Castela”.
Zurara

            Já tenho afirmado e escrito, que Portugal deve começar a preparar a saída da União Europeia (UE).
            As razões que sustentam tal posição derivam da eventual evolução daquela mal definida organização internacionalista, em termos de Ciência Política e do Direito Internacional. Qualquer que seja.
            Divisam-se, basicamente, três cenários futuros: no primeiro, a UE fica a patinar no estado em que está e apodrece devagarinho, e nós apodrecemos com ela; no segundo cenário há uma fuga para a frente, caminhando-se rapidamente para o federalismo e o governo único da União. Caminho difícil e cheio de escolhos que, a construir-se levará, naturalmente, ao desaparecimento do estado português, primeiro,
 e ao despedaçar-se da nação, depois;  finalmente a UE implode – o que é cada vez mais verosimil – e fica tudo partido em cacos, resultando o salve-se quem puder.
            Em qualquer dos três cenários, porém, e a prosseguir-se a politica de submissão, funesta e suicidária, que temos seguido relativamente à Espanha, esta passará a colonizar-nos já que ficaremos “submersos” por ela e sem defesas. Lembre-se Zurara... E para quem minimiza este perigo devido ao facto das autonomias do reino vizinho estarem a partir a Espanha, nós replicamos três coisas: que as convulsões do outro lado da fronteira são boas enquanto ficam do lado de lá e não nos chamuscam; que uma implosão da UE pode obrigar a uma mais forte atracção do centripetismo de Madrid e que a velha Castela, se se vir amputada de alguma “provincia”pode (como já aconteceu), olhar para nós como “compensação”...
            Não se interprete mal: não estamos a defender a saída já, da UE, pelo simples facto de não se dever deitar um edificio abaixo, sem ter alternativa. Já nos chegou a “descolonização exemplar”...
            As alternativas levam tempo a serem criadas, por isso já estamos atrasados. Especialmente por, imprudentemente, nos termos atirado de cabeça para a UE, perdão a CEE, como se ela fosse uma nova árvore das patacas que durasse eternamente!
            Ao contrário do que um largo contingente de notáveis idealizou, no que foi seguido por uma enorme quantidade de cortesãos, olhar para os Pirinéus e virar as costas ao mar, resultou num erro político/estratégico de monta, que um conhecimento mínimo da História e da Geopolítica portuguesa, teria evitado.
            De facto a janela de liberdade e de oportunidade é justamente o Mar, o mar largo, o oceano a perder de vista. Por isso nós temos que o olhar de frente. Não direi que devemos voltar as costas à terra. Nós devemos olhá-la também de frente, pois de lá sempre nos vieram ameaças e algumas (poucas) oportunidades. Devemos estar em guarda relativamente às primeiras e em atitude de falcão (para lhes cair em cima), quanto às segundas.
            Espaldas com espaldas, é assim, a posição a adoptar pelos portugueses…
            A nossa política e estratégia deve ser ambiciosa. Nós deveremos “construir” e projectar três triângulos estratégicos: o que já temos entre o Continente, os Açores e a Madeira; um outro, invertido, definido pela Madeira, Açores e Cabo Verde; e um terceiro que unisse este último arquipélago, Angola e o Brasil.
           O fulcro de tudo isto seria a CPLP e a criação de uma zona de segurança lusófona no Atlântico Central e Sul. Para a CPLP vingar é necessário ter uma política e meios financeiros adequados. Para a CPLP vingar é necessário que o Brasil a lidere e que nós sejamos inteligentes e pragmáticos. Ou seja, devemos assumir com o Brasil aquilo que os ingleses fazem com os EUA na NATO: estes dão os meios, a tecnologia, o armamento, os outros a doutrina.
           O obstáculo a isto chama-se MPLA. Há que encontrar uma estratégia para lhe fazer face.
            A CPLP deve, ainda, apostar nas fronteiras do futuro, isto é, o fundo dos mares, o espaço e a Antártida (quanto ao Àrtico estamos conversados...).
            Os outros dois vectores em que a alternativa portuguesa se deve basear, são as relações bilaterais com os EUA (explorando a importancia dos Açores e a mobilização da comunidade luso-americana) e concorrermos, moderadamente, com a Espanha, na América Latina.
             No mais devemos intensificar as centenárias boas relações com o Japão,a Tailandia,a Abissinia,etc, bem como as excelentes relações que temos com Marrocos desde o tratado de paz de 1774. O Norte de África, onde temos a pouco e pouco, estabelecido alguns negócios e influencia (Tunisia,Argélia), é importante pois temos que garantir a segurança no Mediterraneo Ocidental,que é parte do nooso espaço de interesse estratégico de defesa.
              Sem embargo, a grande aposta para o desenvolvimento económico do país deve ser os recursos da ZEE e os da provável extensão da plataforma continental, o que nos alargará o território submerso para cerca de três milhões de Km2.
            Ora esta é uma outra razão ponderosa para sairmos da UE: é que o Tratado de Lisboa, tão vitoriado com foguetes e “porreiros pá” ao passar para Bruxelas a gestão de todos os recursos vivos (para já estes) da zona económica exclusiva, vai tirar-nos quase todas as hipóteses de os explorarmos. Ou seja vamos ser esbulhados!
            Para tudo isto – que como compreenderão não se pode desenvolver num curto artigo – são precisos políticos sagazes e patriotas, excelentes diplomatas, um aparelho militar muito afinado e empresários capazes, muito diferentes daqueles que se armam em “donos” e, ou, delapidam os fundos de apoio em ferraris e yates
E como é óbvio não teremos nada disto se a escola continuar a ser incompetente em formar cidadãos completos, sérios, de mente sã em corpo são e não seja um pântano de burocracia, facilitismo e experiências pedagógicas delirantes. Nós somos poucos (a demografia negativa é outro problema gravíssimo!), por isso temos que ser muito bons, versáteis e bem organizados, para podermos sobreviver e, sobrevivendo, ter alguma qualidade de vida.
            Nada se conseguirá fazer, porém, se não reformarmos de alto a baixo o nosso sistema político e conseguirmos formar e escolher gente de qualidade e com as características apropriadas para ocupar os diferentes lugares de comando e chefia, aos vários níveis, da sociedade.
            Mas isso já é outra história.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

O NOVO “FUNDO” DA UE E O MUNDO DA FICÇÃO

10/5/2010
“O Orçamento Nacional deve ser equilibrado. As dividas públicas devem ser reduzidas, a arrogancia das autoridades deve ser moderada e controlada.Os pagamentos a governos devem ser reduzidos, se a Nação não quiser ir à falencia.As pessoas devem no vamente aprender a trabalhar, em vez de viver por conta pública”
Marcus Tullius, Roma, 55 a.C.

            A mata cavalos, os responsáveis dos países membros da União Europeia (UE), aprovaram no pretérito 9 de Maio, um Fundo de Estabilização do Euro, a que pretendem atribuir a bonita soma de 750 mil milhões de unidades daquela moeda. Este fundo destina-se, segundo as notícias, a poder ajudar paises da zona euro em dificuldades económico/financeiras e deste modo acalmar os mercados internacionais (será que julgaram que a moeda estaria a salvo dos especuladores?). As bolsas – vá-se lá saber quem as controla e como – abriram logo a subir no dia imediato.
            Dizem que este fundo será constituído por 250 mil milhões do FMI, 60 mil dos cofres comunitários e 440 mil dos estados membros.
            Ou seja, como está tudo em dificuldades, vai-se pedir dinheiro emprestado ao inimigo, perdão ao FMI – o que parece ser já um sintoma de incapacidade – e depois aos mesmos de sempre, isto é, aos estados membros, ou seja aos contribuintes desses estados. Os muito ricos, estão sempre a salvo num qualquer paraíso fiscal – que todos os governos toleram – e quem provoca as crises, passa sempre incógnito no intervalo da chuva.
            Como irão os estados membros e o fundo privativo da UE, obter o dinheiro?
            Pois parece-me que só há três vias: pedem emprestado no estrangeiro; aumentam os impostos, ou põem as rotativas a funcionar, criando mais dinheiro fictício (que já deve ser a maioria), que não tem qualquer cobertura real em riqueza criada. Ou um conjunto dos três. Ou seja, mais do mesmo, em situação agravada…
            No meio disto tudo nem uma palavra de condenação para os especuladores profissionais- oportunistas à espera de vitimas; nem uma ideia para combater as suas práticas,ou das instituições financeiras cujas más práticas são ainda mais gravosas. Ou quem está por detrás delas.
            Antigamente havia agiotas individuais e pelo século XIX irromperam em força, os bancos. E sempre se falsificou moeda. De quando em vez apareciam donas Brancas…
            Dá ideia que estas últimas tomaram conta dos bancos, dos mercados financeiros e até dos governos, sujeitando a vida das comunidades a um monturo gigantesco de agiotagem e de chantagem. Criou-se um “monstro” que ficou fora de controle…
           Agora irá assistir-se à desvalorização do euro face ao dolar – o que aparenta ser positivo – e a perda de autonomia e independencia dos estados e governos no estabelecimento das suas politicas orçamentais,com as consequencias que se adivinham.
            Comparado com isto a “má moeda” que há poucos anos preocupava o Prof. Cavaco Silva era apenas uma provincianice. Por cá, aliás, ninguém se entende, o que não é de estranhar dados os erros de análise mais básicos; a falta de meios (casa onde não há pão…); e as desavenças partidárias/ideológicas e de humores. Também não há autoridade (a mãe de todas as coisas…) para fazer seja o que for. Por isso o primeiro-ministro oscila entre a teimosia do que gostaria de fazer, e os recuos, sem perder a face (um símbolo de impossibilidade). O país vai ficar cacafónico e a fome é má conselheira..
            O PR à falta de poder/querer interferir, mostra-se preocupado e ouve notáveis. Por isso apreciou, a visita de nove ex-ministros que lhe foram levar as suas preocupações – nomeadamente com as obras públicas. Curioso isto, parece que eles nos anos que passaram – e foram muitos – não viveram cá e nem sequer tiveram quaisquer responsabilidades no lindo estado a que “isto” chegou. Dá ideia, que é muito mais real que fictícia, de que os políticos em Portugal criam os factos e as situações e depois quando a coisa dá para o torto – o que acontece quase sempre – vêm, prestres, a terreiro pregar o seu contrário. Alguns exibem até, alguma indignação. A crise, porém, nunca passa por eles e não há notícia de nenhum restaurante de luxo a fechar as suas portas.
            Nós não podemos passar a vida em fuga para a frente nem na mentira permanente.
            O Robin dos Bosques está de volta aos écrans de cinema. Não tarde que o Zé do Telhado ande novamente a monte.