sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

OPINIÃO DE MARGARET THATCHER SOBRE MULHERES NAS FFAA

CURIOSA OPINIÃO!
Será interessante, passadas duas décadas, conhecer a visão e opinião de uma grande líder da Europa sobre o assunto de mulheres nas Forças Armadas.

Não foi ouvida, e talvez seja tempo de fazer uma análise das consequências e alterações resultantes.

…Mas os militares também são diferentes, porque a vida da caserna é distinta da vida do civil. As virtudes que precisam ser cultivadas por aqueles que são chamados a colocar em risco as suas vidas no cumprimento do seu dever simplesmente não são as mesmas exigidas a um homem de negócios, a um funcionário civil ou, sem sombra de dúvida, a um político. É vital, acima de tudo, ter coragem — coragem física.

Os militares precisam desenvolver a camaradagem com os seus companheiros em muito maior grau. Devem ser capazes, implicitamente, de confiar uns nos outros. Soldados, marinheiros e aviadores também são indivíduos e basta ler as suas biografias para compreender isso. Mas não podem ser individualistas. Para aqueles que vivem em regime disciplinar, são os deveres e não os direitos que balizam suas vidas. Eis por que a vida militar é justamente considerada uma nobre vocação e por que, através dos anos, muitos dos que abandonam a carreira militar para ingressar na vida civil sentem dificuldade para se adaptar.

Como regra, os militares necessitam ser fisicamente fortes. Não é suficiente ser talentoso, embora a habilidade certamente ajude. Nenhuma força combatente pode se permitir abrigar, mesmo em pequena proporção, pessoal que não esteja apto a cumprir missões que lhe possam vir a ser atribuídas.

Assim, sou contra as actuais tentativas de empregar conceitos liberais e institucionais da vida civil nas nossas forças armadas. Programas visando introduzir sistemas jurídicos segundo o modelo civil, promover direitos homossexuais e franquear novas actividades para mulheres são, no mínimo, irrelevantes para as funções que se espera sejam desempenhadas pelos militares. Sob um enfoque pessimista, contudo, ameaçam a capacidade militar de forma realmente perigosa.

O militarismo feminista nas forças armadas talvez seja o mais pernicioso desses agentes “reformadores”. O facto de a maioria dos homens ser mais forte do que a maior parte das mulheres significa ou que as mulheres devem ser excluídas das missões fisicamente mais exigentes, ou que precisa ser reduzida a exigência de tais missões, algo evidentemente mais fácil em treino do que em combate. Porém, obviamente, é essa segunda alternativa que as feministas procuram ver adoptada e, com muita frequência, as suas pretensões são aceitas.

Quando se constatou que as mulheres não são capazes de lançar granadas comuns à distância desejável, para que não sejam atingidas pela explosão, a solução foi não deixar a tarefa só para homens, mas construir granadas mais leves (e menos letais). Quando se descobriu que mulheres a bordo de navios de guerra precisam de instalações não exigidas pelos homens, A Marinha dos Estados Unidos teve que “reconfigurar” as suas belonaves para proporcioná-las — apenas no USS Eisenhower, ao custo de US$ 1 milhão.

Quando a maioria das mulheres (correctamente, em minha opinião) opta por não assumir funções de combatente, a resposta, de acordo com um professor da Universidade de Duke, é fazer com que os militares abdiquem de atributos como “autocontrole, autoconfiança. agressividade, independência, auto-suficiência e determinação para assumir riscos. As mulheres dispõem de inúmeras tarefas em que podem servir com destaque. Algumas de nós até dirigimos nações. Mas, em geral, somos melhores lidando com bolsas do que com baionetas.

Guerra sempre envolverá o emprego de baionetas ou equivalentes. É irrealista pensar que as guerras possam vir a ser travadas sem jamais ocorrer contacto físico e confronto directo com o inimigo.

Tendo em mente essas considerações, penso que os nossos líderes políticos e militares devem:
· Revelar mais firmeza, resistindo aos lobies de pressão “politicamente correctos” que contribuem para subverter a ordem e a disciplina em nossas forças armadas.
· Deixar claro que a vida na caserna não pode tomar como modelo os procedimentos, a moldura legal ou as peculiaridades da vida civil.
· Recusar-se a colocar a doutrina liberal adiante da eficácia militar.
· Demonstrar um pouco de bom senso

MULHERES NA INFANTARIA

3/3/2007

Vieram a público algumas notícias sobre eventuais “exageros” ou “abusos” físicos e psicológicos sobre uma aspirante de infantaria, durante o seu tirocínio em Mafra, que a teriam obrigado a abandonar o curso.

Deixando para trás a controversa decisão de se permitir a entrada de cidadãos do sexo feminino para as Forças Armadas, de modo indiscriminado, mandaria o bom senso e a equitatividade, que da porta de armas para dentro não houvesse “machos” e “fêmeas”,mas apenas um ser militar. Isto, sem embargo da salvaguarda de especificidades incontornáveis que distinguem homens e mulheres e que muitos “istas” da nossa praça pretendem aplainar querendo fazer igual aquilo que, naturalmente, é diferente.

Como se já não fosse suficiente deixar invadir uma instituição que foi sempre cumprindo bem a sua missão, durante séculos, sem precisar de incorporar mulheres, ainda as foram admitir em Armas e especialidades directamente expostas ao combate, quando não são mesmo o esteio desse combate – o que parece de todo contrário à compleição e natureza feminina.

É o caso da Infantaria.

A senhora aspirante era a primeira a aventurar-se a assumir tal desiderato como oficial do quadro permanente. A pressão psicológica era grande, como se deve compreender e como transparece numa entrevista que deu ao “Jornal do Exercito” em Janeiro deste ano.

Mas para que haja sucesso os candidatos ao curso têm que ultrapassar as provas curriculares. Lá estão os instrutores – que não pertencem propriamente a uma associação de malfeitores, note-se - para o aferirem. É campo onde não nos metemos.

Acontece que a militar em questão, logo no início da instrução baixou à enfermaria e veio a ter que abandonar o curso por faltas.

Durante um fim-de-semana em que foi a casa, sentindo-se mal, foi ao hospital. O médico que a assistiu entendeu que o que observou poderia derivar de alguma “agressão” física e, ou, psicológica e como parece ser de lei, reportou o facto às autoridades competentes.

O assunto caiu nos jornais e logo se relacionou as eventuais “lesões” com o ocorrido em Mafra.

No “processo” relativo `a futura oficial existente na Escola Prática de Infantaria, nada constará passível de censura relativamente ao treino a que foi submetida.

Somos sempre pelo apuramento da verdade dos factos e pela prevalência da Justiça. No entanto:
Não parece bem, fazer-se chicana nos “média” com coisas sérias; ou haver aproveitamento jornalístico, ou não, para ataques infundados, ou em prol de interesses pessoais;

Deve ter-se em conta que como me disse um instrutor em tempos idos “a Infantaria não é nenhuma pêra doce”, e que parece não haver nenhum infante no mundo que tenha chegado ao fim dos treinos sem um conjunto alargado de nódoas negras.

A Infantaria destina-se ao combate puro e duro e, para tal, tão importante é a preparação física como uma forte componente moral e psicológica.

Nem toda a gente que se propõe atingir um objectivo na vida, tem capacidade para o levar a cabo. As coisas são como são e não podem ser de outra maneira.

Ainda uma última achega: a chegada dos tirocinantes à EPI e respectivo curso envolve uma série de “praxes” e tradições antigas, que longe de estarem deslocadas, são fundamentais à vivência dos Exércitos, não só porque endurecem o corpo e a mente como, sobretudo, por criarem laços afectivos e deontológicos para todo o sempre: espírito de corpo; camaradagem e outros laços morais fundamentais à Instituição Militar e sem os quais esta não se sustenta.

Falar do que não se sabe, ainda por cima podendo afectar negativamente um dos pilares da Nação Portuguesa, não parece ser o mais avisado.

AS MULHERES NA TROPA

20/03/2007
 
Ainda estava no serviço activo, quando foi tomada a decisão de recrutar um largo contingente de cidadãos do sexo feminino para os quadros de praças da Força Aérea (FA). Até então os quadros tinham sido abertos nas Academias Militares e apenas um pequeno número de moças tinha entrado para cadetes.

Era uma situação nova e como me tinha apercebido que o assunto tinha sido pouco estudado no Estado-Maior onde, na altura, estava colocado, tomei a iniciativa de fazer uma informação enquadrando a problemática e solicitando que fosse feito um estudo apurado sobre as implicações que a entrada de um grande número de mulheres, pela primeira vez, na FA teria e a implementação de medidas para lhes fazer face.

A informação foi a despacho a um escalão intermédio de decisão e veio de lá riscada de alto a baixo com a indicação de que era desnecessário por o assunto já estar estudado e em marcha.

Não estava, e a prova disso é que no fim da primeira recruta na OTA havia uma instruenda grávida e ninguém sabia como lidar com o assunto.

Porém, aquilo que me parecia mais importante ser tratado era a questão psicológica, e não o que saltava à cabeça de todos que se confrontavam com o problema, isto é, os uniformes e as casas de banho para as ditas cujas.

Ora o impacto psicológico e comportamental de quem estava – estamos a falar numa instituição muito peculiar - com muitos séculos de existência e modos arreigados de ser e estar, mas só de homens, é que me parecia primordial e a cadeia hierárquica devia estar preparada para lidar com esta nova realidade.

Mas a pressa da FA em ser primeira neste campo, a novidade, a pressão das “feministas” e outros “istas” e, sobretudo, a falta de voluntários machos, ditaram a sorte das coisas.

No Exército o assunto correu um pouco melhor de início, por terem começado mais tarde e, na Marinha, mais tarde ainda e com maior cuidado, sobretudo por causa da questão de compatibilizar a vida a bordo com estes novos abencerragens.

As coisas lá foram andando com a nossa proverbial capacidade de “desenrascanço” para ir resolvendo os problemas em que ninguém pensou a tempo e a “plasticidade” q.b. para contornar e ignorar uma quantidade de questões que se espera seja sempre outro a enfrentar.

Mesmo mais de 10 anos depois de milhares de cidadãos do sexo feminino terem passado pela vida militar muito pouca coisa se tem feito para estudar e avaliar o seu desempenho e impacto na IM. Convinha fazê-lo, para que tal não aconteça, apenas quando formos confrontados com operações militares alargadas, em cenário de guerra.

Mesmo aquilo que se publica mos “media” reporta-se, por norma, a uma qualquer novidade, do género “a primeira mulher a ser isto ou aquilo”.

Ora o fulcro da questão parece-nos ser a resposta a duas perguntas:

Devem as mulheres cumprir o serviço militar?

E sendo alistadas, deve poder-se-lhes atribuir especialidades directamente relacionadas com o combate?

A nossa posição é uma negativa em relação a ambas. E por duas simples razões genéricas: por não acrescentaram nada à IM e por causa da natureza humana.

Vamos lá tentar dilucidar isto um pouco melhor.

As mulheres não trazem mais-valia nenhuma às FAs, mas aumentam-lhe consideravelmente os problemas. E tentar defender o recrutamento das mesmas por falta de homens parece pouco curial. Convinha antes questionar o modelo de Serviço Militar e, ou, o porquê dessa eventual falta. Mentes mais argutas podem defender, ainda, que algumas características femininas podem beneficiar a IM, por exemplo, o seu maior sentido de organização, higiene, acuidade visual, atenção pelos pormenores, etc., poderia favorecer a vida nos quartéis. Mas para tal era necessário que essas militares fossem aproveitadas em funções específicas, o que nem sempre é possível e seria criticado por representar uma “descriminação”.

E pode argumentar-se que há mulheres (dizem-me que até há três sargentos na Infantaria do Quadro Permanente que são um exemplo), que fazem tudo tão bem como os homens. Pois há, mas são uma minoria, e nas organizações o que interessa é a linha média das pessoas. Agora a lista de inconvenientes é longa, eis alguns exemplos.

A logística tornou-se mais complicada e vai desde a adaptação de edifícios, aos uniformes; foi preciso um esforço grande (ainda não terminado), para regular tudo o que dissesse respeito às mulheres militares; afecta constantemente a rotina por causa das trocas de serviço, deveres parentais, gravidez; quem faz os trabalhos mais pesados, etc., complica a gestão de pessoal por causa dos casamentos, deslocamentos, adequação de pessoas a funções, etc.; as eventuais vantagens cromossomáticas, são amplamente ultrapassadas pelos inconvenientes: as mulheres perante um problema, por norma, choram; intrigam, sobretudo e por causa das “outras”; levantam problemas que estão fora da lógica militar, etc.

A presença de mulheres na tropa levanta ainda questões disciplinares novas e na prática diária: a constante adequação do esforço físico a umas e a outros; a inspecção das camaratas femininas por homens e de masculinas, por mulheres; a convivência dentro de espaços confinados (por ex., um veículo blindado de transporte de tropas); a organização de um bivaque em exercícios no campo; a questão da interacção sexual, etc.

Finalmente, um aspecto sempre escamoteado tem a ver com a percentagem de mulheres admitidas. Não existem regras escritas quanto a isto, por causa do politicamente correcto e do “ruído” feito por “istas” defensores voluntaristas de todas as igualdades.

Não se deveria ter mais de 10 a 15% de mulheres no total do contingente (pelas “regras” actuais, elas poderiam ser 100%), e as mesmas deveriam estar equilibradas dentro de cada especialidade. Ora não é nada disto que se passa. Creio mesmo que se anda em roda livre …

A questão psicológica era a mais importante, estando agora atenuada, mas não deixa de ser fundamental. Havendo homens e mulheres nas FAs só há uma maneira de encarar a situação: da porta de armas para dentro, não há machos nem fêmeas, apenas militares. Ora as coisas podendo em teoria ser encaradas assim, na prática são muito mais difíceis de pôr em execução. Foram muitos séculos a falar de mulheres, quando se estava no quartel e a falar de tropa quando no meio civil …

Os exemplos, às vezes são os mais corriqueiros: tratar as mulheres pelos apelidos (como é norma antiga) e não pelo primeiro nome; obrigar as militares menos graduadas a passar na porta depois dos militares mais graduados; não permitir troca de beijos no serviço, etc. Depois há sempre o aspecto da diferença de hormonas: se bem que grande parte das mulheres é capaz de falar com um homem em serviço, sem atender a mais nada, para a grande maioria dos homens é inevitável que seja feita, em simultâneo, uma apreciação sobre a beleza física de quem está na sua presença. É fatal como o destino!

Neste âmbito as coisas, apesar de tudo, até nem têm corrido mal. Estamos longe de chegarmos aos exageros já ocorridos nos EUA, a propósito do “sexual arresment”.

Lá chegaremos?

Agora a parte ainda mais importante: as mulheres irem para especialidades combatentes.

Há alguns anos a esta parte, foi decidido, dentro do Corpo de Marines americano, proibir as mulheres de irem para especialidades directamente relacionadas com o combate. A decisão levantou grande controvérsia. O assunto chegou ao Congresso onde uma conhecida parlamentar liderou o processo. O Comandante dos Marines foi chamado ao Congresso (coisa que raramente acontece com os nossos chefes militares), e inquirido pela senhora congressista, das razões da proibição, respondeu: “Madam, war is a business of destroying things and killing people, and we both know that women are not very good in doing that” (“Senhora, a guerra é um negócio de partir coisas e matar pessoas e ambos sabemos que as mulheres não são muito boas a fazer isso”).

A inquirição morreu logo ali.

De facto a natureza feminina não se ajusta bem a partir coisas e a matar gente. Está mais acentuada a tratar das pessoas: dos pais, dos maridos e dos filhos, isto é, da família. E os homens gostam de convidar as mulheres para passear, para jantar fora, para ir ao bailarico, ou para ir para a cama. Agora para ir para a guerra?!

Sejamos sensatos, as mulheres podem ser tão corajosas quanto os homens, e já o demonstraram em muitas ocasiões da História de Portugal: nos cercos de Diu; quando se arriscaram escondidas nas caravelas; nos ataques a S. Aleixo da Restauração; na resistência posta aos invasores, durante as cruentas invasões francesas, etc. Mas nesses casos são as circunstâncias que ditam o empenhamento.

As mulheres têm ainda um papel fundamental na retaguarda, não menos importante que na frente, como foram os exemplos de Mariana de Lencastre e Filipa de Vilhena, ao fazerem de seus filhos bons patriotas e logo bons combatentes!

Manter as mulheres fora da IM não deve pois ser encarado como um acto discriminatório. Antes como um facto natural da vida, que defende muito mais as mulheres e as FAs do que insistir em modernismos já serôdios, que a natureza humana e a realidade prática desaconselham.

Quando haverá coragem para encarar as coisas como elas são?

sexta-feira, 13 de maio de 2011

A POLÍTICA AGRÍCOLA COMUM E A DEFESA NACIONAL

“A principal indústria de um país é a agricultura”
António Augusto Ferreira [1]

            Em artigo anterior[2], defendemos que as três instituições fundamentais que existem em Portugal, a Universidade, a Igreja e as Forças Armadas, estão a ficar de tal modo enfraquecidas que podem pôr em risco a sobrevivência nacional.
            Em complemento, vamos hoje discorrer sobre a gravíssima crise em que mergulhou a agricultura portuguesa.
            Como se sabe, as actividades agrícolas estão na origem da sedentarização dos povos e na posterior estruturação e desenvolvimento das comunidades.
            A existência de alimentos é uma condição básica de sobrevivência para qualquer indivíduo/sociedade e tal consegue-se, sobretudo através dos produtos da terra, complementados com a criação pecuária e a pesca. A existência de excedentes fomenta as trocas aumentando o comércio e os bens ao dispor. Cresce, deste modo, a riqueza, o que permite investimentos noutras áreas, e, assim sucessivamente.
            Aumentando a população (por via de uma boa alimentação), os misteres diferenciam-se, porque já nem todos precisam de trabalhar o campo e porque as necessidades materiais, culturais e espirituais aumentam, permitindo e exigindo uma maior especialização…
            Bom, tudo isto é sabido, como é sabido também, que desde principalmente, o século XVI, Portugal não consegue ser auto-suficiente em matéria alimentar, nomeadamente nos cereais. Sem embargo, por melhores ou piores que fossem as políticas seguidas sempre houve a intenção e a preocupação de produzir mais e melhor. Agora o que é inédito e inaudito é que se fomente (pagando) a não produção, o abandono das terras e se atire cerca de 20% da população para a voragem canibal das multinacionais alimentares e respectivos intermediários, sem outra defesa que não seja o subsídio – outra despesa. Pois é efectivamente isto que está a acontecer em Portugal, indo já ter efeitos em 1993, em termos de desemprego, falta de escoamento de produtos, baixas de produção, aumento do custo dos factores de produção, confusão e corrupção na distribuição de créditos e subsídios, agitação social, etc.
            Reparem, o raciocínio é simples: Imaginem vários peixes de diferentes tamanhos que viviam em aquários separados mas cujas paredes se tocavam. O que defendia os peixes pequenos dos grandes eram as paredes dos aquários (fronteiras). A certa altura começaram a partir as paredes dos aquários, sem que dessem tempo aos peixes mais pequenos que crescessem.
Agora adivinhem o que é que os peixes grandes vão fazer aos pequenos!? É isso, comem-nos, e nós estamos exactamente nessa posição (dos peixes pequenos).
            A PAC é uma aberração. É antieconómica e é antinatural. E (aparentemente) estúpida. Protege, sobretudo, os circuitos comerciais internacionais (e vamos ver que guerra é que isto vai dar com os EUA e Canadá, dentro e fora do GATT).
            Haverá, assim, tendência para que passe a existir uma multinacional “alemã” da beterraba açucareira, uma “inglesa” para a ovelha; uma “francesa” para o vinho; uma “espanhola” para o azeite, e assim por diante. Em última análise toda a parte produtiva e comercial do que fazemos sairá das nossas mãos e passará para entidades supra ou transnacionais, cinzentas, estranhas e às vezes difíceis de identificar, cujas únicas baias são as regras emitidas pelos tecnocratas de Bruxelas, após luta feroz entre interesses e “lobbies”. Quando as coisas correrem mal quem será o responsável? A quem se poderá pedir contas?
            Por outro lado, e por via dos acordos comunitários estamos impedidos de procurar fornecedores ou mercados onde mais nos interesse, caducando naturalmente qualquer acordo bilateral que pudéssemos ter.
            Enfim, a situação, a prazo, será tão ou mais grave do que a monarquia dual imposta por Filipe I, em Tomar, no ano da graça de 1581.
            Parece-nos ainda inadmissível que num mundo em que morrem milhares de pessoas de fome todos os dias, em que cerca de um bilião de seres humanos vivem no limiar da sobrevivência, se destruam alimentos e não se aumente a produção de quem o pode fazer. Mesmo em Portugal, é chocante ver estragar comida, não apanhar a fruta das árvores, entornar o vinho nas ruas, etc., com tanta gente a passar mal e os preços sempre a subirem nos mercados.
            Que diabo, ofereçam ao menos às Misericórdias ou, se forem menos amigos do género humano, dêem ao Jardim Zoológico … Mas, o mais grave de tudo, parece-nos, situa-se a nível do psicológico.
            Os agricultores são o âmago da Pátria, a força telúrica da Nação, que emana da terra, uma reserva moral (e material) do País. O homem da terra está intimamente ligado à natureza e às suas leis, mantendo com ela uma relação de equilíbrio estável e intuitivo, que transporta para a família e para a sociedade. Ora pedir a um operário que não produza tantas rodas dentadas não é o mesmo que pedir a um agricultor que deixe morrer as suas árvores de fruto. O operário tem alternativas, ou vai de férias. Quiçá ficará grato. Mas, o agricultor? Vai para o café da aldeia carpir mágoas? E, oh almas, não vêem que quando as árvores morrerem é também um pouco do agricultor que morre também? Não percebem que a actividade agrícola está ligada à alma do agricultor e que o equilíbrio atrás mencionado pode ser roto?
            Infelizmente a impressão que temos é que a maioria de quem anda a negociar e a decidir sobre estes assuntos não percebe, não quer perceber e terá até raiva de quem perceba destas coisas. São uns rapazes armados em tecnocratas do “jet set”, de computador debaixo do braço, sempre ávidos a transformar ecus em escudos e vice-versa. Mas, Deus do Céu, que outras qualificações terão para negociar estas questões, que perceberão das motivações das pessoas a quem deveriam defender os interesses e das implicações que das decisões advirão para os interesses nacionais?
            A questão dos subsídios, já falada, está completamente inquinada. Por várias razões. A primeira sendo a de não se saber o que é que se quer fazer em termos agrícolas. É preciso ter um plano agrícola, silvícola, pecuário, etc., com objectivos a atingir e depois fazer os investimentos em conformidade. As ideias neste campo são as mais diversas e andam sempre a mudar. Ora despejar dinheiro num cesto destes é ter a garantia, à partida, de que a maioria dele se evaporará sem benefícios visíveis. Em segundo lugar, é preciso ter uma política de subsídios. Tem que se saber que tipo de subsídios existem e quais as condições em que podem ser concedidos. Numa palavra é necessário que as regras do jogo sejam claras.
            Além disso, é vital dá-las a conhecer. Tão mais vital, em virtude da maioria dos agricultores portugueses ser idosa e possuir um grau de cultura muito baixa. Não será fácil proceder a este esclarecimento (como fazer face às restantes coisas), quando a maior parte dos funcionários do Ministério da Agricultura está em Lisboa …
            Em terceiro lugar, é importante que a concessão de subsídios seja fiscalizada sob pena de nos atolarmos num pantanal de corrupção e injustiça. Isto é: nos subsídios malparados!
            Creio bem, que é já neste estádio que nos encontramos. Desenvolveu-se, entretanto, uma “fina flor de chicos espertos” que passaram de “agricultores” para aquilo a que poderemos chamar de “gestores de subsídios”. Acontece de tudo: luvas entre quem empresta e quem recebe; favores; empresas fantasmas; financiamento de produtos que nada têm a ver com as campanhas de momento, falências fraudulentas, etc., etc.
            Enfim, muito subsídio para o Mercedes e pouco para a vaca!
            No meio de tudo isto, uns poucos enriquecem e a maioria dos agricultores está no limiar da sobrevivência, atolados em dívidas. E sem saber o que fazer.
            Uma palavra mais sobre os subsídios. Não se deve, quanto a nós, criar o reflexo condicionado da pedinchice. Isto é: se chove muito, pede-se subsídio; se não chove, pede-se subsídio; se os preços caem, pede-se subsídio; se não se escoam os produtos, pede-se subsídio; e tudo, de preferência, a fundo perdido. E perguntamos nós, quando a colheita é boa, alguém devolve algo? E os seguros de colheita servem para quê? E que tal ensinar os “empresários” agrícolas a fazerem uma boa gestão dos seus meios?
            Uma coisa é certa, faça sol, chuva ou vento, produza-se muito ou pouco, no dia seguinte as coisas estão mais caras no mercado!
            É evidente que tem que haver subsídios, mas haja peso e medida. E mão forte para quem burlar.
            Em síntese, o subsídio deve servir para corrigir políticas, formar técnicos, fazer face a calamidades extraordinárias, reconverter culturas, apoiar experiências inovadoras, apoiar a estabilização de preços, etc.
            As contas, porém, devem ser tornadas públicas, no fim do ano. Neste particular seria bastante útil que se soubesse a distribuição a que foram sujeitos os cerca de 1.300 milhões de contos que entraram no País desde a sua entrada na CEE.
            Do que já foi dito extraem-se muitas consequências negativas em termos de defesa nacional. Uma primeira constatação, contudo, merece ser dita desde já: é que nos parece que nada do que se tem gizado em termos de política agrícola (como de resto nas outras), teve em conta qualquer preocupação em termos dessa mesma defesa.
            Muitos aspectos merecem a nossa atenção: a cidade está cada vez mais afastada do campo, o litoral do interior. Há zonas perigosamente despovoadas e desertificadas: por via da crise agrícola pode aumentar a tensão social, a agitação e diminuir a solidariedade nacional. Estes aspectos necessitam de rápido tratamento sob pena do País ficar algo mutilado e crescerem tendências regionalistas e centrífugas e de ligação a regiões adjacentes espanholas.
            Em termos de defesa nacional (e em termos macroeconómicos também), é perigoso que o País não produza sequer 50 por cento do que come. Agrava esta situação o facto da produção das restantes parcelas da economia nacional não chegarem para cobrir este défice.
            Ficamos, assim, dependentes do exterior. E do que Bruxelas nos quiser vender e comprar (o que acontecerá quando houver quebras de produção?); torna-se muito mais difícil constituir reservas estratégicas para qualquer emergência, crise ou guerra. Uma má política agrícola e silvícola, degrada o solo, a gestão da água disponível desertifica. Suponham, por absurdo, que só somos autorizados a plantar eucaliptos?!
            Mas o mais grave em termos de defesa nacional, relativamente à PAC é que nos toma, por um lado completamente dependentes de outros países e sobretudo de Bruxelas[3] e por outro, vai-nos reduzir a agricultura a franjas de pequenas produções ou obrigam-nos a produzir coisas que mais ninguém quer produzir. Só conseguiremos evitar isto, ser produzirmos mais barato, e melhor que os outros. Gostaria de desafiar as autoridades competentes a explicarem como é que isto estará ao nosso alcance. Sem embargo, tudo o que nós tivermos de bom, terá tendência a ser comprado por quem tem posses saindo das nossas mãos, não só os bens como a mais-valia que os mesmos podiam prover. Numa palavra, ficaremos como estava D. João II quando subiu ao trono: seu pai tinha-lhe feito senhor dos caminhos e estradas do reino e pouco mais…[4]
            A concluir o quadro, é preciso ter em conta, que tudo se faz para manter a população desinformada sobre estes assuntos.
            Parece-nos, assim, importante, que se estude e debata as implicações das opções políticas que são tomadas a esmo, sempre com grande optimismo, sempre na mira dos milhões fáceis (que hão-de, fatalmente, ser pagos com juros), na mira de sinecuras, mas sem cuidar bem dos verdadeiros interesses nacionais. Atitude esta, que a continuar levará à conclusão – legítima – que os citados interesses estão bem longe das preocupações daqueles que, por dever, os deviam ter em preocupação primeira.
            Estes assuntos têm que ter um tratamento de Estado. Não podem ser conduzidos por mercenários da política, desconhecedores do país real e dos seus interesses permanentes e profundos; que renegam (quando conhecem) a História Pátria e têm do funcionamento do mundo uma ideia, no mínimo, nebulosa.
            Todavia, manejam muito bem a máquina de calcular e são peritos em servir os interesses de momento que lhes permitam manter o exercício do poder… pelo poder.
            Caros compatriotas, cuidado se um dia estes senhores chegarem à conclusão que é muito caro manter Portugal como país independente, naturalmente, vendem-no.

Publicado no jornal “O Dia” de 10/3/93 com o pseudónimo Adamastor




[1] Meu pai
[2] “Portugal, o Princípio do Fim”, “O Dia” de 27de Setembro de 1992.
[3] Daí a PAC ser estúpida, apenas aparentemente.
[4] Só que, nessa altura, as terras estavam na mão dos nobres, que, por sinal, eram portugueses.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

O SANTO CONDESTÁVEL D. NUNO ÁLVARES PEREIRA – NUNO DE SANTA MARIA

“Aqui jaz o famoso Nuno, o Condestável, Fundador da Casa de Bragança, excelente general, beato monge, que durante a sua vida na terra tão ardentemente desejou o reino dos céus depois da morte, e mereceu a eterna companhia dos santos. As suas honras terrenas foram incontáveis, mas voltou-lhes as costas. Foi um grande príncipe, mas fez-se humilde monge. Fundou, construiu e dedicou esta igreja onde descança o seu corpo.”
Inscrição que existiria na pedra tumular da sepultura primitiva de D. Nuno Alvares Pereira, na igreja do Carmo, em Lisboa

            Por uma feliz iniciativa do autor, certamente inspirada no patriotismo que lhe corre nas veias, vamos poder desfrutar da excelsa figura de Nuno Álvares Pereira cantada por José Campos e Sousa.
            São um conjunto de bonitos poemas de autores consagrados que a sensibilidade de Campos e Sousa musicou e representam uma original e justa homenagem ao português maior e  único que foi D. Nuno.
            Em boa hora o fez.
            O futuro Fronteiro-Mor do Alentejo e Condestável do Reino, nasceu em Cernache do Bonjardim ou no Castelo da Flor da Rosa – segundo outros autores - em 1360.
            Educado com esmero e nos ideiais da Cavalaria não se limitou a rever-se neles, interiorizou-os e aplicou-os pela vida fora. Quis ser exemplo do que professava e que outros o seguissem.
            D. Nuno distinguiu-se primariamente como um grande general, um líder natural e um combatente de eleição. Somou sucessos, foi generoso na vitória  e humano para com o inimigo. A ele devem Portugal e os portugueses a mercê de serem independentes e com identidade própria no concerto das nações. Mais tarde, cumprida a tarefa de salvaguardar o trono e a segurança das fronteiras, a sua Fé – que sempre o acompanhou em tudo o que fez – levou-o a dedicar-se em exclusivo ao Bem, ao serviço de Deus e da sua alma.
            Culminou os muitos templos religiosos que mandou construir, grande parte deles em honra da Virgem Maria - de quem era especial devoto - com o convento do Carmo, em Lisboa, destinado a ser sede da Ordem com aquele nome e local para a sua última morada. Para lá entrou como simples irmão donato, ficando encarregue da portaria.
            Sendo dos homens mais poderosos e ricos do país, foi-se desfazendo da sua riqueza, quer em obras pias, quer distribuindo-a e aos títulos, pelos seus familiares, pelos seus camaradas de armas e simplesmente pelos pobres. E foi para estes que esmolava depois de se ter recolhido à sua cela do convento que mandara construir. O caldeirão que antes servira para cozinhar o rancho para as suas tropas, servia agora para alimentar os desvalidos com sopa – a sopa dos pobres!
            Como cidadão há a destacar um conjunto alargado de qualidades que pôs ao serviço da comunidade, dando exemplo de boas práticas e de bons costumes. Sobrava-lhe carácter, mas não deixou de ser humilde. Não se lhe conhecem vilezas. Por tudo isto o povo logo o apelidou de “Santo”, assim que Nuno de Santa Maria fechou os olhos, com 71 anos de vida bem vivida, rodeado do Rei e dos infantes. E não mais parou de haver romaria ao seu túmulo onde passou a tremular a luz de uma lamparina de prata oferecida pelo futuro rei D. Duarte que muito estimava o Condestável.
            Foi este rei que inaugurou as iniciativas de canonização que duraram um longo período de seis séculos até a santidade ter sido reconhecida pelo actual Papa Bento XVI, em cerimónia ocorrida em Roma, a 26 de Abril de 2009.
            É este homem, General e Santo, exemplo ímpar para Portugal e agora para todo o mundo católico, que este CD homenageia.
            Ao contrário de muitos responsáveis políticos e outros, que ignoraram a honra da canonização e o exemplo de D. Nuno, José Campos e Sousa cumpriu o seu dever de  artista, de cidadão e de português.
            Devemos estar-lhe gratos por isso.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

“OS CHUMBOS QUASE NUNCA SÃO BENÉFICOS”: Machadada Final no Ensino

31/7/2010
“De pequenino é que se torce o pepino”
adágio popular

Ministra da Educação
              A frase que encima o título resume a entrevista que a Sr.ª Ministra da Educação (melhor seria da instrução, já que a educação dá-se em casa…), deu ao Expresso de 31 de Julho.
            Por ele ficámos a saber que está a pensar fazer mais uma reforma do ensino, a juntar às já incontáveis que ocorreram nos últimos 35 anos.
            Este parece ser o golpe de misericórdia que faltava no inenarrável edifício da 5 de Outubro, onde se despeja anualmente euros às pazádas (mais de um bilião  de contos/ano, nos últimos anos!).
            De facto o modo como se abordou a questão mata à nascença qualquer hipótese de conteúdo positivo que a ideia contivesse. Pensem bem e recuem aos tempos em que estudavam: se por acaso aparecia um professor a dizer “esta e aquela matéria não vem para o ponto”, o que é que 99% dos alunos fazia? Isso mesmo, arrumava os livros referentes à matéria apontada e nunca mais pegava neles. O que a Srª Ministra veio dizer foi isto: nenhuma matéria vem para o ponto; melhor, já não há ponto…isto numa altura em que quase já não há exames…
            Estão a ver não estão? Dando outro exemplo, é como querer que exista Exército e acabar com o RDM e o CJM [1], e bem têm tentado fazê-lo!
            Outro erro de monta é andar constantemente a invocar o que se passa nos outros países para que nos sirva de exemplo, nomeadamente os famigerados congéneres europeus. Ora isto é outro disparate desconforme. Não, que não se deva estudar o que por lá se passa para, com as devidas adaptações, as implementarmos caso se mostrem adequadas. Agora decalcar coisas de realidades diferentes com meios diferentes e, sobretudo, gente diferente, não é adequado nem sério.
            O sistema de ensino tem que ser adequado à nossa idiossincrasia, à nossa cultura e aos nossos costumes e tradições e estudado por quem conheça bem os que “de luso ou lisa, filhos foram, parece, ou companheiros”, no dizer de Camões. Aliás, não é apenas o sistema educativo que deve tal reflectir: tudo o resto que enforma a sociedade o deve ter em conta, a começar no sistema político, no modo de gerir empresas, comandar homens em combate, ou treinar a selecção de futebol. E já agora, no campo legislativo, pois temos que fazer leis para as pessoas pela simples razão de que não se podem fazer pessoas para as leis…
            Parece, à primeira vista, que quem não entenda isto, sofre  de profunda estupidez. Mas isto apenas se aplica a uma pequena percentagem da população, até porque tal tem a ver com o bom senso que é o senso comum de todos; haverá uma larga maioria que não tem informação ou conhecimentos suficientes para entender determinadas coisas – aliás a maioria dos assuntos – ou pura e simplesmente as coisas passam-lhes ao lado. Sem embargo há, estou certo, minorias que sabem muito bem o que andam a fazer, uns porque acreditam piamente; outros porque é politicamente correcto e ainda uns quantos que estão ao serviço de determinadas ideologias ou interesses.
            A classe politica entra, seguramente, na sua esmagadora maioria dentro deste último âmbito.
            Ora isto de andar com as criancinhas ao colo, pôr os direitos à frente dos deveres (acabar mesmo com estes…), desresponsabilizar os delinquentes, relativizar tudo, atacar regras, hierarquias, conceitos e referências; confundir o Mal com o Bem e mais uma quantidade de ideias verdadeiramente subversivas da sociedade e do correcto convívio entre humanos, representam conceitos político-ideológicos que ainda derivam da Revolução Francesa, a que se veio misturar o lixo anti doutrinário do pós Maio 68, em França. Junte-se a isto doses q.b. de demagogia – doença infantil da Democracia – a que qualquer governo/partido que não olhe a meios para se manter no Poder, usa e abusa, e temos uma amálgama explosiva que rebenta com qualquer nação digna desse nome. Mesmo aquelas que nasceram no século XII e ganharam maioridade no século XIII/XIV…
            Não é senhora ministra?
           Já não lhe chegava (e aos seus antecessores), a chusma de passagens administrativas; os exames faz de conta; as novas oportunidades; a babilónia de cursos; a indisciplina de todos; o granel nas carreiras e nas avaliações de professores; governarem para as estatísticas; a luta perdida contra o abandono escolar e mais um ror de coisas que uma resma de papel A4 não chegava para explicitar e ainda quer acabar com os chumbos?
             O resultado de tudo isto é os jovens portugueses andarem há mais de 30 anos a chegarem ao mercado de trabalho na sua maioria, analfabetos encartados, sem estarem minimamente preparados para a vida – que é dura e não fácil – fisicamente definhados, civicamente meio cegos, intelectualmente diminuídos, tecnicamente mal apetrechados e moralmente baralhados. E a senhora ministra pretende é que ninguém chumbe? Ou é de propósito para terem cidadãoes acriticos,mansos e fáceis de enganar?
            Os jovens de hoje, não são piores nem melhores que as gerações que os antecederam, mas têm sido pessimamente orientados e enquadrados. Até acabaram com o serviço militar obrigatório…
            Por isso senhores governantes finem de vez com essa treta idiota de que toda a gente nasce igual ou é igual, pois toda a gente é diferente e cada um tem que fazer o seu percurso. Deve é tentar-se que todos tenham as mesmas oportunidades, mas isso joga-se noutro campeonato. Deixem de meter na cabeça das pessoas que todos podem ser licenciadas em qualquer coisa. Isso representa uma irresponsabilidade e uma impossibilidade.
            Ainda não perceberam que não há boas ou más profissões (e todas são necessárias!) mas sim bons e maus profissionais?Que não interessa haver muitos licenciados, mestrados ou doutorados, mas sim bons, em que o canudo corresponda às aptidões e ao saber? Os outros só lá estão a atrapalhar.
            Sabe, senhora ministra, no que dá todo este descalabro? Eu digo-lhe: no campo individual, quando alguém abandona a escola e for à procura de emprego, vai ter que aí, demonstrar o que sabe e fazer os exames necessários que não fez (e devia ter feito) durante a sua vida de estudante. Sabe porquê? Porque as empresas precisam de ter lucros ao fim do ano e não se podem dar ao luxo de contratar gente incompetente para a função. Ora isto vai ser muito doloroso para quem tem vinte e tal anos e não está preparado para a vida – de pequenino é que se torce o pepino – e muitos não vão conseguir emprego, ou preencher as expectativas que criou ou lhe criaram, com as frustrações inerentes e que não são quantificáveis.
            Finalmente, os mais aptos, que conseguiram por mérito próprio, ou por bom conselho parental (e tiveram posses para isso), escaparam a este marasmo, ao verem-se atolados no pântano que leva três décadas de apodrecimento, não descansam enquanto não abandonam o país.
            Em termos colectivos, o desastre da educação – que gera efeitos para toda uma vida – vai condenar o futuro de Portugal e dos portugueses.
            Por isso, senhora ministra, sorria menos e pense melhor. E já agora diga-nos em que escolas estudam os seus filhos e netos, se os tiver. É só para percebermos se o que a senhora diz, coincide com o que a senhora faz.



[1] RDM, Regulamento de Disciplina Militar
CJM, Código de Justiça Militar

OS PROTESTOS DE VALENÇA E A FALTA DE SENSO

7/4/2010

            Quando escrevo faz três dias que ondeiam ao vento na cidade portuguesa de Valença, centenas (?!) de bandeiras espanholas.
            Tal facto inédito e indecoroso, acontece em protesto por o governo português ter encerrado as urgências nocturnas, nos serviços de saúde daquela localidade e em agradecimento ao facto do autarca da galega cidade de Tuy, logo ter disponibilizado os seus serviços para atender os portugueses que necessitassem.
            Cumpre explicar porque classificamos o que está a acontecer de “indecoroso”.
            Independentemente da justiça dos protestos – e tem que se avaliar caso a caso a razoabilidade dos mesmos – e da legitimidade e legalidade do que se entende fazer – outros elementos a ter em conta, desfraldar bandeiras espanholas,nas circunstancias em que o fizeram (diria, em qualquer circunstância), é insensato, perigoso e uma bandalhice, que desacredita e desfeia quem o promoveu e quem aderiu.
            Há mil e uma maneira de fazer protestos, e não consta que falte imaginação aos portugueses, agora hastear bandeiras adentro de uma fortaleza que há 900 anos defende o respectivo povoado dos ataques de quem durante todo esse tempo se tem mostrado inimigo ou antagonista, é um acto de quem perdeu o norte, está falho de referências e esqueceu valores. Fica mal. E os fins nem sempre justificam os meios.  Acaso imaginam que acto semelhante pudesse ocorrer do lado de lá?
            Que agradecimentos merece o alcaide galego além de um muito obrigado? Ele fez mais do que a sua obrigação? Não lhe sabe bem que lhe fiquem devedores e que os euros em vez de se gastarem do nosso lado, transitem para o lado dele? Haverá de facto alguma filantropia?
            Caros compatriotas de Valença: andaram mal, e tão cedo não se limpam desta ignomínia!
            A maneira mansa e abúlica com que os poderes públicos reagiram ao sucedido é sinal inequívoco de como vivemos numa paz podre e decrépita. A comunicação social acompanha a onda, quando não faz circo no que havia por ter sido tido, como coisa séria e reveladora de que o país está doente. Muito doente. Uma coisa destas, há 30 anos, não acontecia, pela simples razão, de que não passaria pela cabeça de ninguém, sequer, pôr a hipótese de que tal pudesse acontecer!...
            Sem embargo, os poderes públicos e as políticas postas em execução são as principais causas do estado, a quase todos os títulos lastimável, a que chegámos. A ignorância histórica, estratégica, geopolítica, etc., demonstrada pela classe política é aterradora. A inoculação de referências erradas é avassaladora.
            O resultado está à vista de todos e todos os dias.
            As causas próximas destes protestos têm sido o sucessivo abandono do interior do país ao Deus dará. Concentrou-se a vida dos 90000 Km2 que nos restam, numa faixa de 50 Km junto à costa que vai de Braga a Setúbal. Mais a sazonabilidade turística da faixa algarvia (os arquipélagos são outra questão). O interior está deserto pela migração, pela quebra demográfica, pelo estertor da agricultura, pela devastação dos incêndios e pela ausência de indústria. Até os quartéis do Exército fecharam quase todos…
            Restam os serviços públicos, muitas rotundas, alcatrão de passagem e uns minis afloramentos turísticos, dispersos. No Alentejo existem ainda muitos centros de apoio à terceira idade, mesmo assim eles suicidam-se às mãos cheias…
            Tudo isto representa um enormíssimo erro político-estratégico de monta. O resultado é que as populações da raia se têm tentado ligar às economias espanholas, criando acordos transfronteiriços, que os políticos do Terreiro do Paço pacoviamente aplaudem. Ora o interior deve estar ligado ao litoral, não à raia espanhola! Aliás a política de cedência e de ajoelhamento face a Espanha tem sido total e irresponsável.
            O Conde Duque de Olivares, lá no Purgatório onde penará eternamente, informado pelas Moncloa e Zarzuela, do que se está a passar, já disse para não o maçarem mais, pois não consegue acreditar em nada!...
            E como podemos querer que simples cidadãos se comportem condignamente quando tivemos um ministro que foi à Galiza dizer que era iberista e que o próprio governo português prosseguia uma política iberista?; quando o Primeiro-ministro insiste em passar pelo ridículo de falar espanholês sempre que passa a fronteira, e grita Espanha, Espanha, Espanha?; quando o governo português colabora ostensivamente com Madrid relativamente ao TGV (e a tudo!), dando aos espanhóis de bandeja um objectivo que eles perseguem relativamente aos caminhos-de-ferro, desde sempre e que nós conseguimos resistir até hoje?
            Como se pode censurar o simples povo, quando (só para citar um ex. entre centenas), se permitiu que a volta à Espanha em bicicleta, tivesse início em Lisboa, com guardas-civis armados (!?) a fazerem protecção? Que censurar, quando a câmara de Lisboa (tão célere a mandar retirar a bandeira monárquica) antes tinha substituído a bandeira nacional do mastro do alto do Parque Eduardo VII, pelo trapo azul com estrelinhas, da UE? (este facto deu origem a uma queixa de um grupo de cidadãos, entregue na PGR, que respondeu não ter visto nenhum mal no assunto!).
            Por isso não é de estranhar que o silêncio dos filhos de algo, desde o PR até aos líderes partidários, sobre o assunto, seja ensurdecedor! E que ande tudo, o que é autoridade no país sem saber o que há-de fazer e pior do que isso, muitos conformados com este estado de coisas! E onde estão as instituições que se dizem “patrióticas” por estatuto, quem as ouve? Onde está a sua indignação?
            Que é feito da censura social? Quem se propõe mudar a lei para dissuadir comportamentos destes? [1]
            O que se passou em Valência não pode ser considerado um “fait divers”. Mexe com coisas sérias.
            E o modo como tudo se passou e as reacções (que não gerou), podem ser o início do fim de muita coisa.


[1] Só gostaria de ver como reagiriam as autoridades se em vez de bandeiras espanholas, fossem hasteadas bandeiras nazis…