5/6/2010
Instalada a “Democracia” por alturas de 1976 – ou o que quisermos convir por tal – logo surgiram partidos políticos como cogumelos. Passados uns tempos a maioria desapareceu, restando cinco com assento parlamentar e uns apêndices que normalmente afloram aquando de eleições.
No entretanto, ocorreram várias tentativas para a formação de outros partidos, que tiveram vida efémera. É que para se montar uma organização destas é preciso muito dinheiro e quem se mete nesta aventura acaba, por norma, incompatibilizado com o mundo e… cheio de dívidas.
Daqui se infere que a “democracia” escorrega facilmente para a plutocracia, ou seja o regime dos ricos. E a partidocracia existente vai, a pouco e pouco, blindando o sistema.
À volta dos cinco partidos - a sociedade está longe de estar representada! – tem, girando a vida política nacional, relegando-se todas as restantes instituições para quinto plano. Com a agravante de que a maioria dos expoentes virem, apenas, da área do Direito, disciplina que, aparentemente, é mais compatível com a prática política…
Costuma ouvir-se dizer que os partidos políticos são enformadores, quiçá estruturantes, da Democracia. Pois se são, teremos que importar outros, pois os que temos além de não estruturarem nada, partem (não fossem eles “partidos”) tudo à sua volta e a única coisa que geram são empregos para as suas clientelas. Em vez de serem escolas de civismo, transformaram-se em exemplo de más práticas e trafulhices constantes.
E assim temos vivido, ainda por cima com o pouco que produzimos e com o muito que nos emprestam.
Com o resultado das eleições, de que usamos e abusamos – nos últimos 200 anos houve 171 governos, e lembro que nos 48 anos do Estado Novo, votava-se pouco – sai um partido com maioria absoluta ou relativa, tendo que governar, neste último caso, em minoria ou sujeitar-se a uma coligação com outro(s) partido(s). Em ambos os casos as coisas correm, por norma, mal. No primeiro caso são acusados de se instituírem em “ditadura” da maioria – agravado pelo facto da abstenção ser o “partido” mais votado – e são impiedosamente criticados por tudo o que façam; no segundo caso gera-se, rapidamente, a maior das barafundas, sendo difícil obter “quórum” seja para o que for.
Independentemente de tudo, predomina a lógica do bota abaixo, do dividir para reinar, da caça infrene ao voto, da tentativa de condicionamento dos “media” – no fundo, de tudo o que mexe! – etc. O objectivo é só um: alcançar ou manter o Poder. E é este objectivo e exclusivamente este, que as lideranças partidárias sujeitam tudo o resto. Neste âmbito é fácil perceber que Portugal e a nação dos portugueses é apenas o objecto, não a finalidade.
Aqui é que bate o busílis da coisa.
Portugal é hoje um país esfrangalhado. E já o é desde as invasões napoleónicas que é o momento marcante que deu início às nossas desgraças contemporâneas. Ora nenhum país tem futuro se mantiver no seu seio divisões insanáveis.
Agora o “sistema” tem outra curiosidade. Quando a situação piora, quando há crises, quando se percepcionam cataclismos sociais e políticos (para já não falar em ameaças de guerra), logo aparecem catadupas de vozes a clamar pela “unidade”, por “acordos de regime”, pela “base alargada de apoio”, pelo “consenso institucional”, etc.
Ou seja, clamam pela União Nacional… corrijam-me se estou enganado.
Ora isto é incompatível com o sistema de partidos, pois é contrário à lógica partidária, como já vimos. E a manutenção de um acordo é apenas conjuntural e limitado no espaço e no tempo. Mal comparado e usando uma linguagem acessivel ao vulgo, era como se os clubes de futebol abdicassem dos seus interesses em favor da selecção nacional…
Se passar a haver confluência de políticas, alianças, acordos mais ou menos pontuais, etc., entraremos no campo dos paradoxos e das incongruências. Isto é, se um partido concorda com outro, deixa de haver justificação para um deles existir; mas se não houver convergências em coisas sérias, o poder nacional sofre, o país não se entende, não há resultante capaz.
Se, por outro lado, as divergências não são grandes, também não se justificam os partidos. Um qualquer conjunto de cidadãos, senta-se a uma mesa, discute e chega a uma conclusão. Quem tiver autoridade, aplica. Se por acaso houver um partido que defenda um conjunto de ideais, não miscíveis com a restante população, nem com a matriz enformadora da nação, estão criadas as condições para uma guerra civil e, ou, a “auto- determinação” de uma parte do país.
Ainda a piorar as coisas existe um fenómeno comum a todos os partidos, representado pelas “tendências”, os “grupos”, as guerrinhas entre personalidades, etc., que baralham ainda mais as coisas e desacreditam o sistema. São, porém, muito do agrado dos comentadores e analistas políticos, assim como dos empresários da comunicação social… O mal de uns é sempre o bem de outros.
O sistema, tido por democrático, baseado neste tipo de partidos, só funciona,também, enquanto houver dinheiro. Nenhum cidadão que vá de férias a Cancun, mesmo que seja com cartão de crédito, se revolta contra nada... Mesmo deparando – como tem sido bastos os casos – com quebras de princípios éticos, criminalidade vária ou subversão de valores. “Ele rouba, mas faz”, pode considerar-se a síntese do que quero ilustrar.
O “sistema”, por outro lado, não se regenera por si, como a História nos ensina, mas poucos são os que a estudam e interpretam.
Convém, pois, tentar atalhar a situação e fazer as rupturas necessárias enquanto existe capacidade para controlar algumas das variáveis existentes.
Quanto mais tarde se actuar mais custos haverá. Infelizmente a politica parece ser a única actividade humana onde não se pode ter razão antes de tempo.
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