quinta-feira, 9 de setembro de 2010

O AZAR DA D. ELISA

2008

A apresentadora Maria Elisa
Não se percebe a Maria Elisa: está menos comedida e mais agressiva. Os telespectadores não têm certamente culpa do percurso acidentado que, ultimamente, tem tido; zangas com produtores/administradores; atribulações de deputada; corte cerce na “carreira diplomática”; volta às lides televisivas, etc. Uma carreira cheia que atravessa várias ideologias.

Numa última aventura televisiva, infelizmente das menos conseguidas, a do cretino concurso sobre o “melhor português de sempre”, os humores da senhora é que parece que se turvaram. Apesar de toda a destrambelhada e pouco profissional campanha levada a cabo contra o Estado Novo e sobretudo contra a sua principal figura – um sempre modesto professor de Coimbra que jaz modestamente em campa rasa, apesar da sua obra se elevar acima de qualquer outro português (com excepção, talvez, de mais três ou quatro), acabou por ser ele – Salazar -, quem ganhou o primeiro lugar na preferência dos cidadãos que se deram ao trabalho de votar, talvez mais por raiva, do que por outra coisa. Desabou o mundo!

O Estadista Oliveira Salazar,
que venceu o concurso para o melhor Português
É estranho, isto. Enquanto se vilipendiava um notável e honesto estadista que tirou o Estado português da sarjeta e a Nação da lama onde se atolara, aceitava-se com a maior serenidade que um conhecido e empedernido traidor, 10 vezes mais perigoso que o Cristóvam de Moura ocupasse o 2º lugar, e que um modesto funcionário diplomático desconhecido de 99% da população, fosse empurrado para a terceira posição por sionistas e pessoal do ex-reviralho e cuja verdadeira história está longe de ser aquela veículada para o éter!

Isto, depois da mais indecorosa ignorância ter deixado de fora da lista das cem personalidades que apareceram a escrutínio, por exemplo, a figura de D. Nuno Álvares Pereira, talvez o único grande chefe militar português, que nunca perdeu um combate; a quem os portugueses devem, indiscutivelmente, terem continuado a ser independentes e que está neste momento a caminho da santificação. Como se deve classificar tudo isto? Maria Elisa aparenta não ter recuperado deste “choque”.

Regressada às lides televisivas, estreou nova programação com um documentário sobre as cheias ocorridas em 1967. E aproveitou o ensejo de, sobre uma catástrofe natural que se abateu sobre a Nação, tida como a pior a seguir ao terramoto de 1755, lançar uma descabelada catalinária sobre o governo de então: ele eram os meios de salvamento que não havia; a miséria que emergiu?? do ocorrido; a repressão?! aos estudantes que se dispuseram a ajudar; as notícias que a censura cortava (a censura foi tão evocada, que mais um pouco e ainda passava a culpada da “fúria dos elementos”…); a construção que se fazia em leito de cheias, etc. Até se foi evocar, vá-se lá saber porque bulas, a canção que fez o Salgueiro Maria sair de Santarém, em 25 de Abril de… 74!

Bom, eu era um rapaz novo, na altura, e vivia perto de uma dessas zonas duramente atingidas: Algés. E ainda tenho ideia de como as coisas se passaram. Foi de facto uma situação complicada, mas não me lembro de haver falta de notícias, sobre o que se passava.

E recordo que logo na altura se contabilizaram os mortos em mais de 500. Certamente que haveria contenção na forma e no conteúdo, de como se davam as notícias, pois existe toda a vantagem em evitar o pânico, garantir a ordem de modo a que o socorro se possa realizar da melhor forma; serenar os espíritos, etc. tudo coisas que o bom senso dita, mas que para os partidários do vale tudo informativo, logo se apoda da mais tenebrosa censura.

Por isso é que, de há anos a esta parte, a mais desbragada concorrência e exploração dos baixos instintos humanos, nos impõem catadupas de imagens e diálogos os mais incriveis, chocantes e violentos que se repetem “ad nauseum”, a qualquer hora, sem respeito a nada nem a ninguém.

De facto, em 1967, podia haver mais meios (creio que agora também...), e não havia nenhuma estrutura coordenada como a actual Protecção Civil. É verdade. Mas em 1967 também não havia televisão a cores, nem computadores, por exemplo. Aliás, nem se entende como o programa não questionou o Marquês de Pombal, por não haver um corpo e bombeiros em 1755!

É verdade, em 1967 havia pobreza em Portugal e em 1867 também. E, outrossim, em 1767. Tenho até lido nos jornais onde os senhores jornalistas escrevem sem qualquer censura, que agora, hoje, restam dois milhões de pobres. Tem só uma pequena coisa, D. Elisa: desde 1986 que a CEE põe cá cerca de dois milhões de contos/dia e que as toneladas de ouro que os tais de 1967 deixaram de herança, já se venderam metade, e as divisas que havia, consumiram-se. Já me esquecia, em 1967, a moeda nacional era o escudo. Hoje temos o euro.

Mas a D. Elisa teve azar.

Logo na madrugada seguinte em que o programa foi para o ar (a 17/2), desabou sobre a maior parte do País e sobretudo na área da grande Lisboa (a mais afectada também em 1967), uma carga de água tamanha, que no dia seguinte gerou o caos no trânsito; cheias em dezenas de locais; pelo menos um morto; disrupção de actividades; centenas e centenas de pedidos de socorro e prejuizos muitos.

E como já não há censura – diz a D. Elisa e muitos outros, mas eu não acredito, e lá vem tudo especado nos jornais e pantalhas. E as queixas são as mesmas: continua a não haver prevenção; faltam obras tidas por necessárias; reordenamento do território. Continua a haver construção (eu diria que há a mais), em leito de cheia e falhas no socorro, apesar de agora haver muito mais meios e estruturas.

Apareceram até os autarcas a recriminar os governantes e vice-versa! (uma novidade que não havia em 1967!).

O “Prós e Contras” entrevistou até uma catedrática que informou ter a chuva em 1967 sido o dobro da que caíu agora; que os locais de cheias em Lisboa são os mesmos há uma quantidade de anos; que vai acontecer, novamente, e outros pormenores interessantes.

De facto a D. Elisa teve azar. Mas que Diabo, com tanta chuva, era difícil o programa não meter… água.

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