sábado, 28 de agosto de 2010

A FORÇA AÉREA ESTÁ A DESAPARECER!

- “Falcões Brancos check in”
- “two, three, four”
- “ branco one”
A FA nasceu como Ramo independente em 1 de Julho de 1952, reunindo a arma de Aeronáutica Militar, existente no Exército, desde 1914, e o Serviço de Aviação Naval criado na Armada, em 1917.

A FA atingiu o seu mais alto nível em 1974, no fim das campanhas de contra guerrilha nos territórios portugueses africanos, iniciados em 1961. Tinha então cerca de 22000 homens e operava 24 tipos diferentes de aeronaves, num total de cerca de 450. Para se ter uma ideia da verdadeira explosão da actividade aérea, basta dizer que durante o período de guerra foram construídos no ultramar português,cerca de 750 estruturas aeronáuticas...

Em 1975/6 com o fim das operações, o tipo de aeronaves foi reduzido para 12 e o pessoal estabilizou à volta dos 10000, civis e paraquedistas incluídos.

Após a notável acção do general Lemos Ferreira como Chefe de Estado-Maior, que “reafirmou” a FA no seio nacional e lançou as bases da sua modernização, deixando trabalho para mais de 20 anos, a FA, apesar de ser o Ramo com menos recursos – sem embargo das suas missões terem aumentado - não parou de se reduzir.

Assim por alto, a FA cedeu (incompreensivelmente, deve dizer-se) a Base Aérea de Tancos ao Exército; entregou o Aeródromo de Manobra n.º 2, para a autarquia de Aveiro; a OTA deixou de ter aviões; os Açores estão reduzidos a uma esquadra; o Corpo de Tropas Paraquedistas foi “transferido” para o Exército e as OGMA transformaram-se em Empresa Pública e depois vendida a brasileiros.

A capacidade de sustentação das frotas e o número de horas de voo não tem parado de diminuir.

Pior ainda do que tudo o que foi dito, foi a redução no pessoal com áreas críticas em várias especialidades e as dificuldades de recrutamento. Deve ainda juntar-se ao descrito a degradação no Moral, ponto sensível em qualquer organização. E tal é válido para quem continua no activo, como o que passa à reserva e reforma. E enquanto alguns parâmetros são contabilizáveis, o último não o é.

Ultimamente todos os parâmetros se agravaram. A asfixia financeira continua ( é idêntica na Marinha e ainda consegue ser pior no Exercito!); o pessoal debanda, por três razões principais: degradação acentuada das condições salariais e de apoio à família militar; desvalorização social da dignidade da Condição Militar e falta de auto estima e coesão interna. É que antigamente a miséria era “dourada”. Agora continua miséria e deixou de ter cor…. A degradação da capacidade de sustentação acentuou-se, e a crise na gestão de pessoal está a criar rupturas. A saída de pilotos, por exemplo, é um corropio… já chegou aos generais…

Partindo do princípio que a operacionalidade das esquadras de voo é a pedra de toque de qualquer FA, aquilo que se tem passado nos últimos tempos é de molde a aumentar as preocupações, são exemplos, as baixas prontidões para o voo de praticamente todas as frotas, a saída de pessoal navegante; a lentidão extrema com que se têm feito a modernização dos F-16 (MLU), a que o último acidente com perda total de aeronave, só veio exponenciar; a ultrapassagem em termos práticos da vida útil da frota ALIII (que já merecia uma “Torre e Espada”) e a degradação acelerada da mais moderna frota que equipou a FA, os helicópteros Merlin, cuja paragem progressiva - por a frota ter entrado ao serviço sem se ter garantido a respectiva manutenção – obrigou a essa coisa inédita, que foi ter-se ido recuperar para o voo alguns helis Puma já na “naftalina”.

São milhões de contos que estão em jogo e a missão importantíssima de Busca e Salvamento, que ou nos enganamos muito ou o governo,um destes dias retira esta missão das FAs e passá-a para a Protecção Civil ou para os Bombeiros. Os C-130 que representam a face mais visível da FA, arriscam-se a colapsar por… não terem tripulantes… Até o Falcon 50 aterra por precaução em Itália, com o PR a bordo, o que sendo uma coisa que pode acontecer a qualquer um, ocorreu em altura nada conveniente.... Com a ida do novo aeroporto para Alcochete, a FA vai perder o seu campo de tiro ar-solo e não tem alternativa para o mesmo. A Base do Montijo vai ver certamente limitações à sua operação.

As aeronaves que dão tiros (que são a “força” da FA) estão reduzidas a duas (o P3C e o F-16), se considerarmos que o que resta do Alpha Jet se destina a converter pilotos para o F-16;a nova frota de 12 C-295, que se destina a substituir os Aviocar arrisca-se, assim, às maiores vicissitudes.

A lista não acaba aqui, mas julgo que já disse o suficiente para ilustrar o problema.

Está na hora de reagir. E esta reacção só pode vir de cima para baixo. Mas para ter sucesso é necessário colher o apoio de todo o pessoal até ao mais baixo escalão. E não chega. É preciso mobilizar todos os que serviram na FAP. Tripulantes, pessoal técnico e administrativo: esqueçam eventuais queixas que tenham ou inimizades que fizeram, é preciso novamente vestir a “camisola” para salvar a Instituição. Antigos oficiais, sargentos, especialistas, praças e civis, toca a reunir que valores mais altos se levantam. E se for preciso solicitar solidariedade aos outros Ramos, que se peça. É um sinal de humildade além do que eles também precisam de nós …

Ainda estamos cá por “Mérito Próprio” (Ex-Mero Motu).
- “Branco um, dentro”
- “Branco um, fora”
- “Branco dois, dentro …”
J. J. Brandão Ferreira
Ex-Falcão Mor

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