sexta-feira, 27 de agosto de 2010

A CAMINHO DE MAIS UMA VERGONHA POLÍTICO-MILITAR

Maio de 2008

Vasco Lourenço, o presidente da Associação 25/4
São conhecidas as sequelas que as rupturas sociais e políticas acarretam e deixam por anos a fio, na memória, na carne e no espírito dos povos e dos países que as sofrem.

É conhecido ainda – pois isso tem a ver com a natureza humana -, os oportunismos e contorcionismos de carácter que têm lugar numa maioria muito significativa de cidadãos, que a toda a pressa se tentam adaptar e “sobreviver” no novo “status quo” criado, cujos responsáveis, a primeira coisa que fazem é tentar legitimar-se.

Entre nós, a sabedoria popular crismou há muito, estes pecos de carácter como os “adesivos”.

É por tudo isto (e não só) que a História passa a ser escrita ou reescrita, pelos vencedores, e se torna quase impossível passar a olhar para a realidade dos factos com equilíbrio e verdade.

É o caso de Portugal, mais de uma trintena de anos, após o processo alquimista que fez nascer cravos em canos de espingardas.

Ultimamente apareceu mais um caso patético de um pobre de espírito mais do que de corpo, ex oficial do quadro permanente, que agora quer ser reintegrado na Força Aérea.

A comunicação social dá cobertura a estes casos que nos deviam envergonhar a todos. O último foi o Correio da Manhã na sua edição de 21 de Abril de 2008.

Este filho de uma Pátria que já por várias vezes perdeu o Norte, cursou a Academia Militar e era capitão piloto aviador, quando decidiu desertar, em 1972, fugindo para a Venezuela.

Depois de uma vida desgraçada entre drogas e chagas sociais várias, regressa a Portugal e requer a reintegração na FA, alegando ser opositor ao regime deposto e por “não querer recrutar mais pessoas para a ditadura”. Alega ainda ter labutado numa organização obscura, o MDLPC, de que ninguém ouviu falar -, sita na longínqua terra de Simão Bolívar, e que patrioticamente se dedicava a combater a odiosa cáfila de fascistas que espezinhava os portugueses.

Mais prosaicamente as coisas passaram-se assim: o dito cujo, terminado o tirocínio na Base Aérea nº 1, em Sintra, em 1966, foi escolhido para ficar na esquadra 102, como instrutor de voo em T-37, situação de privilégio, dado excluir uma mobilização nos próximos anos, para uma frente de combate africana.

O nosso homem era o que se toma por “bom vivant”, deslocando-se num MG – coisa rara na altura -, e frequentador conhecido de discotecas e lugares de diversão nocturna entre Lisboa e Cascais.

Existem fortes suspeitas de ser já consumidor de estupefacientes e não poucas vezes teve que ser resguardado para não ser castigado por não se encontrar em condições físicas para executar as suas exigentes funções.

Aproximando-se a data previsível para ir finalmente frequentar um curso operacional que o habilitasse a cumprir uma comissão de serviço em teatro de guerra, obrigação que ele voluntariamente tomara quando se alistou e jurara cumprir, tremeu de coragem e abalou que se fazia tarde.

Não é de excluir também, que problemas com as más companhias de que se rodeou, tivessem influenciado a sua decisão. Mas talvez ele as possa dilucidar melhor.

E ei-lo de volta qual Fénix renascida, sendo também de estranhar a data tardia em que o fez, dado que as suas supostas convicções revolucionárias e oposicionistas o deviam ter impulsionado a regressar à sua terra logo após a data “libertadora”.

Os órgãos do Estado têm, até à data, resistido a cometerem mais uma indignidade, mas não estamos seguros que o não façam.

Recentemente – vá-se lá saber porquê – o sr. Cor Vasco Lourenço, presidente aparentemente vitalício da Associação 25 de Abril , convenceu o actual Chefe de Estado Maior da FA, a permitir a este indivíduo, que deveria ter sido preso e julgado em Tribunal Militar, mal pôs o pé no país, a ser observado no Hospital da FA, dado o seu debilitado estado de saúde. E não querem saber que foi mesmo ?! (dia 29/4).

Então os militares actuais – com os seus deveres e direitos em dia, note-se -, estão meses à espera de uma consulta e vêm o sistema de saúde à família militar a ser destruído, estando até um coronel na reforma a ser objecto de um processo disciplinar por, justamente, ter escrito um artigo a denunciar a vergonha existente, e agora vem um figurão destes, pela mão de outro, que supostamente representa uma Associação que fez uma “revolução” para devolver a liberdade, a justiça e todas essas coisas bonitas que enchem o ouvido a quem ainda tem paciência para isso, e entra directamente para exames médicos, sem ir para a bicha e marcar consulta?

Será isto um corolário da Democracia que o Sr. Cor Vasco Lourenço se gaba de ter ajudado a implantar?

Vamos, por absurdo, admitir que as alegações que o meu ex-camarada de armas, que por pudor, omito o nome, era de facto um opositor ao regime de Salazar e que “não queria sic “recrutar jovens para a ditadura”, como alega na tal entrevista, e por esse facto “alguém” o incorpora novamente na FA. Fica desde já assumido, que requererei ser julgado e demitido de militar do quadro permanente. É que as duas situações não são passíveis de conviverem.

Permito-me um conselho: não apareça mais na fotografia mostrando insígnias militares que o senhor não soube honrar. Deixe-se de greves de fome e vá trabalhar.

E se já não tiver forças para isso (pelos vistos nunca teve muita), não aborreça mais a FA e vá bater à porta da Santa Casa da Misericórdia. Já chega de bandalheira!

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