quinta-feira, 26 de agosto de 2010

A CRISE DA EDUCAÇÃO VISTA DE OUTRO ÂNGULO

12/12/08
“Se acham que a Educação é cara, experimentem a ignorância”.
Lema do Ministério da Educação de Singapura

A crise da Educação, melhor dizendo o diferendo entre a actual Ministra de Educação e o Sindicato da FENPROF, mais tarde alargado à grande maioria dos professores, está aí para durar.
E só irá terminar quando a Ministra cair o que, por sua vez, só acontecerá quando o Primeiro-Ministro entender que tal lhe seja vantajoso.

Os problemas actuais tiveram origem na subversão completa do sistema de ensino existente em 1974 e que se catalizaram agora por via da implementação de um novo sistema de avaliação para os docentes.

Ora pondo de lado a dialéctica de querer ou não querer ser avaliado versus não querer este modelo, a discussão do imbróglio está perfeitamente descentrada pela simples razão de que para se instituir um modelo de avaliação – qualquer que ele seja – é necessário haver um sistema hierárquico no ensino e ele não existe: foi destruído nos idos de 1974/75.

Por outro lado, tudo parece nublado de um lado e de outro, como se ambos os lados da contenda evitem revelar os seus objectivos mais íntimos e que podem passar por afunilar drasticamente o topo da progressão na carreira de professor de modo a cortar na despesa, ou a capitalização do descontentamento de modo a forçar mudanças na representação parlamentar, após as próximas eleições legislativas.

Ora tudo isto não sendo dispiciendo está longe de contribuir para a resolução dos gravíssimos problemas existentes no sistema educativo nacional que há décadas compromete o futuro de Portugal e que se traduz em lançar no mercado do trabalho (e da ociosidade) milhares e milhares de jovens impreparados para a vida, do ponto de vista cultural, técnico, cívico, fisico e moral. Tudo isto custando ao país anualmente (nos últimos seis anos) uma quantia superior a um bilião de contos …

O que fica dito configura um descaso e uma incompetência fenomenais. E muitas sabotagens objectivas.

Vamos tentar apontar as principais causas do descalabro, que até hoje nenhum governo teve a coragem ou a capacidade de atacar.

O primeiro erro cometido foi deitar o edifício existente (em 1974) abaixo sem ter nenhum para o substituir. A seguir o Ministério da Educação foi tomado de assalto por forças políticas que enquistaram partidários seus em numerosos lugares.
Torna-se por isso imperioso sanear o ministério e suas dependências, o que ainda não foi feito por falta de coragem política e porque o emaranhado de leis não o permite ou aconselha. O máximo que se consegue é colocar uma quantidade de gente na “prateleira”, pagando claro. O crime,por vezes, compensa.

A seguir montou-se uma estrutura pesada, burocrática, concentrada, falhada na descentralização onde se inspecciona mal e não se pedem responsabilidades. Mal comparado é como se um general na tropa quisesse controlar todos os seus homens. Além disso qualquer tipo de autonomia universitária, ou outras, sem fiscalização corre mal. É da natureza das coisas …

Depois, a educação melhor dizendo a instrução, foi invadida por uma quantidade razoável de adiantados mentais, especializados em ideias “esotéricas” que desataram a fazer experiências pedagógicas delirantes, mudando constantemente os “curricula”, os manuais escolares, quebrando a disciplina, etc., e nunca chegando ao fim de nada. Deste modo nunca se conseguiu aferir resultados e está tudo cada vez mais baralhado.

Tudo isto foi piorando com a injecção de doutrinas completamente desfasadas da realidade e do comportamento humano, que geraram um laxismo galopante, o primado dos direitos sobre os deveres e a desculpabilização militante.
Em simultâneo fomentou-se a massificação do ensino, sem preparar adequadamente os meios para lhe fazer face, resultando um nivelamento por baixo não só na qualidade de ensino, nas infraestruturas necessárias como na selecção dos professores, muitos dos quais deviam era estar a aprender coisa que se visse.

Esqueceram-se princípios simples mas de sempre, como sejam os de que não precisamos de muitos licenciados, mas sim de bons licenciados e de que nem todos podem ser doutores, de que o fim do ensino técnico constitui um exemplo dramático.

“Autoridade” foi uma palavra que desapareceu do léxico e a “memória” passou a ser “fascista”.

Como se os erros não fossem suficientes horizontalizou-se tudo, impedindo o exercício da autoridade.

Saber quem manda numa escola é um mistério e dificilmente se pode responsabilizar seja quem for, pois está tudo enxameado de conselhos directivos, pedagógicos, científicos, dos pais, dos alunos e do que se queira inventar. Quase ninguém quer exames, regimes de faltas e sanções.

Ou seja, aparentemente ninguém está interessado na qualidade do ensino, governa-se para as estatísticas para consumo interno e da União Europeia. Sem qualquer espanto, os alunos começaram a desrespeitar, quando não a agredir, os professores; os pais dos alunos, idem; a insegurança, desregramento, a droga e todo o tipo de vícios campeia e praticamente todo o mundo tem assobiado para o lado com medo de ser triturado e como se nada fosse com eles.

Os sindicatos em vez de tratarem daquilo para que foram criados, limitam-se a ser correias de transmissão de partidos políticos.

O diabo anda à solta e tudo vai piorar.

Tudo isto existe, tudo isto é triste, não tinha de ser fado!

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