07/05/09
Ameaçava chuva o dia 26 de Abril. Mas o astro-rei, tendo certamente em conta a transcendência da cerimónia, decidiu-se a enviar os seus raios de luz e calorento afago.
A cerimónia decorreu simples e com o decoro próprio da Santa Madre Igreja. Há no entanto a destacar as palavras de Sua Santidade ao referir-se à figura de D. Nuno.
Foram sem dúvida as mais importantes de todas e extravasaram até o âmbito religioso como foram as referências às evidências histórico-políticas da consolidação da independência e da importância dos Descobrimentos (e não “encontro de culturas”).
Foram sem dúvida as mais importantes de todas e extravasaram até o âmbito religioso como foram as referências às evidências histórico-políticas da consolidação da independência e da importância dos Descobrimentos (e não “encontro de culturas”).
E não se coibiu de o chamar de “herói”. A Santa Sé bem sabe a importância que tal teve para a expansão do cristianismo no mundo. A Igreja, de facto, é universal, mas uma grande parte dela é portuguesa ou teve por base a missionização portuguesa.
Outra evidência que ficaria bem à classe política e ao episcopado português ter sempre presente.
Portugal, para além de ser um dos três únicos países a cuja realeza foi atribuído um título pela Santa Sé – o Cristianíssimo Rei de França; Muito Católica Majestade (espanhola) e a Nação Fidelíssima (nós), é o único país do mundo que ostenta um símbolo cristão na sua bandeira – os escudetes em forma de cruz que representam as cinco chagas de Cristo e os 30 dinheiros da traição de Judas – e isto desde o início da nacionalidade.
Não é, aliás, a actual cura da Sr.ª D. Guilhermina, tida como milagrosa, que fez a Santidade de D. Nuno. Foi toda uma vida pautada pelos valores cristãos, em que não se conhece mácula, tanto na paz como na guerra; e o reconhecimento popular, desde a sua morte, que justificam plenamente a distinção ora concedida.
E disso fez o Papa eco apontando D. Nuno como exemplo para toda a Igreja como, de resto, já o seu antecessor Pio XII o tinha feito em plena Segunda Guerra Mundial apontando-o como modelo a seguir por todos os combatentes.
Por isso confessamos o nosso “gozo” ao ter ouvido um padre alemão comentar para os seus amigos ou familiares que tinha sido canonizado um general português – “Ein portuguishe general”…
Tem alguma razão o Sr. Cardeal Patriarca, quando disse na missa na Igreja de Santo António dos Portugueses, que a canonização não deveria servir propósitos políticos. Eu diria que “partidários” ficaria melhor, pois exaltar a figura de D. Nuno – e ela está longe de se esgotar no campo religioso – é exaltar um português de renome e concomitantemente a terra a que pertence e isso não deixa de ser um acto político. Por outro lado ignorar o que se passa também é uma atitude política. Não dá para se ficar neutro.
Porque a Santa Sé é um Estado e o Papa a sua cabeça, fez bem em agradecer a presença da comitiva oficial portuguesa chefiada pelo Ministro dos Negócios Estrangeiros. A delegação era condigna, mas não estava para ser assim.
Para registo convém dizer que o Governo apenas se queria fazer representar pelo nosso embaixador no Vaticano e foram precisas algumas manobras de bastidores ao que se consta da própria Presidência da República (o PR não podendo estar presente, quis fazer-se representar pelo Chefe da Casa Militar), e não só, para que a delegação estivesse compostinha e com uma representação militar.
A talhe de foice deve também referir-se não ser razoável que os homens do Exército tenham ido e voltado num espaço de tempo que não lhes deixou margem para tomarem banho e mudarem de camisa. Pobrezinhos, mas não tanto…
Pena também, que nada estivesse organizado para juntar os portugueses em Roma a fim de puderem tomar parte nas actividades em conjunto. A mobilização também não foi grande e possivelmente não houve capacidade para mobilizar as comunidades de emigrantes das redondezas.
O cartão que dava acesso ao recinto com cadeiras trazia inexplicavelmente o nome de D. Nuno, Alvares escrito com “z”, dando ideia de uma espanholidade que faria o Santo dar voltas no túmulo. Pormenores que não são dispiciendos e que convém esclarecer para que não medre o dito popular de que “não acredito em bruxas, mas lá que as há, há”.
E como teria sido bonito que o altar onde se realizou a missa de canonização tivesse uma guarda de honra de cadetes da Academia Militar, que escoltariam a imagem ou relíquia que representasse o novo Santo de volta à Pátria num avião com a Cruz de Cristo. Mas tal exigiria outros dotes e interesses que, contemporaneamente, estão ausentes do governo da Nação.
As cerimónias finalizaram, já no dia 28 com uma missa de acção de graças na Igreja de S.ª Maria em Transpontina, por parte da comunidade carmelita vinda de todo o mundo. Coube ao Prior Geral da Ordem do Carmo, Padre Fernando Millan – espanhol - fazer o elogio da vida de D. Nuno Álvares. E fê-lo bem.
Na realidade são insondáveis os desígnios do Senhor.
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