10/2/2010
Vista aérea do Tejo, com a Ponte Salazar e o Cristo Rei |
Há algumas semanas atrás fui fazer um voo de instrução de pilotagem com dois alunos estrangeiros.
O destino era o aeroporto de Vigo, tendo como primeiro alternante Santiago e o Porto como segundo.
Descolei de manhã cedo, o tempo previa nevoeiros matinais, nebulosidade entre o “scatered” e o “broken” a altitudes diferenciadas, com previsão de melhoria gradual durante o dia. Chegados ao Porto efectuou-se um “Vor” para a pista 35, estando as condições meteo bastante boas.
Na rota para Vigo encontrou-se bastante nebulosidade até ao nível 70, que cruzámos. Em Vigo, porém, as condições eram de “cavok” com um pequeno senão: o vale onde se encontra o aeroporto estava coberto com uma fina camada de nevoeiro.
Iniciado o procedimento de ILS, apesar das condições marginais, prosseguiu-se a aproximação até que, já na final, o controlador deu indicações de tempo já abaixo dos mínimos. Decidi fazer a aproximação falhada antes de entrar no nevoeiro e dei instruções para alternar para Santiago.
Inquirida a meteorologia com o controle, verifiquei que o tempo estava a piorar rapidamente, podendo também ficar abaixo dos mínimos, pelo que optei por mudar novamente de destino, rumando agora ao Porto.
Como não é habitual os aviões de instrução aterrarem no Porto, informei, logo que foi possível, o controlo da aproximação do que se estava a passar e perguntei se era possível reabastecer com Avgas (100LL). A resposta foi afirmativa. Mais tarde, ainda no ar, perguntaram-me como pretendia pagar, ao que respondi que o faria com o cartão da escola ou com o MB próprio.
Aterrados e parqueados, num aeroporto internacional quase deserto, logo nos foi dito que o combustível demoraria um bocadinho; que teria que ir “ali abaixo” pagar as taxas de aterragem e que se disponibilizavam para nos dar boleia até lá, já que se quiséssemos transporte teríamos que o pagar também. Agradeci, perguntei como poderia preencher um plano de voo e estranhei não haver nenhum acordo de pagamento directo entre entidades.
A resposta foi uma sugestão para tentar fazer o plano de voo por telefone, o que seria facultado pela colega no local de pagamento das taxas aeroportuárias, já que ir às operações implicava entrar no terminal e depois seria algo complicado sair novamente. Quanto aos acordos de pagamento, pediu desculpa, mas que não havia.
Assim fiz, pagos os 43 euros da aterragem (o parque seria gracioso desde que não ultrapassasse as três horas) e lá consegui que uma simpática jovem me copiasse o plano de voo por telefone e que as entidades competentes o aceitassem receber daquela maneira.
Regressado à aeronave esperei ainda uns minutos que o combustível chegasse (com equipamento algo arcaico…) altura em que soube que teria que pagar em metal sonante, já que o cartão da companhia estava fora de questão e não tinham máquina multibanco portátil.
Como ir ao terminal levantar dinheiro, tornava a colocar a questão da demora em voltar, contaram-se os tostões e apuraram-se 80 euros. O senhor do combustível fez as contas e entre preço do litro e taxas diversas, apurou-se que os 80 euros davam para abastecer… 30 litros ! Confesso a minha ignorância sobre preços de combustível de avião e os meandros da concorrência, mas creio não escandalizar os leitores ao afirmar que este preço é caro, em qualquer parte do mundo.
Bom, 30 litros era melhor que nada, tinha outro voo de instrução para fazer, lá mandei abastecer. Opção, porém, infrutífera já que a bomba que era suposto enviar os tão preciosos litritos se recusou a funcionar. E como a operação manual não se poderia fazer por faltar a respectiva “manivela” lá tive que optar por descolar com o que restava perante a frustração e acabrunhamento das pessoas presentes, que pediam mil desculpas e lembrando ter a situação já sido reportada várias vezes, etc.
Lá descolei, o tempo ajudou, cumpri a missão, embora os alunos nunca devam ter aterrado com tão pouco combustível. Mas há sempre uma primeira vez para tudo. Bem impressionados com o que assistiram, não devem ter ficado. Tenho ido a diversos aeroportos espanhóis de 2ª linha (digamos) e nenhuma destas situações se verifica.
São várias, certamente, as razões pelas quais o aeroporto Sá Carneiro tem uma actividade deminuta durante grande parte das 24 horas do dia. Factos, como os relatados – e o preço dos serviços – não parecem, todavia, serem de molde a melhorar a situação.
Resta a simpatia e o espírito de bem fazer das pessoas com que me cruzei e um travo amargo de constatar que talvez com pouco esforço e bom aviso, se poderiam melhorar facilmente tantas coisas.
Um bom apoio em terra é fundamental para se voar nos céus de Portugal.
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