domingo, 17 de outubro de 2010

VÃO ACABAR OS MANDATOS DAS CHEFIAS MILITARES

13/10/09

Anos 60 - Um dos emblemas mais antigos do
Centro de Instrução de Operações Especiais (CIOE)
              Em 1810, Napoleão enviou um poderoso exército para acabar de vez com a resistência luso-inglesa e ocupar definitivamente Portugal. Para o comandar escolheu um dos seus melhores marechais, Massena, conhecido pelo “Príncipe Querido da Vitória”. A invasão deixou o país exangue, mas os franceses acabaram por ser expulsos e perseguidos.
            Mas aquilo que melhor defendeu e beneficiou os portugueses não foi o génio militar de Wellington, o valor das tropas, o estoicismo da população ou sequer as linhas de Torres Vedras. O que mais depressa derrotou os franceses, foram as intrigas, inimizades, invejas e desentendimentos entre Massena e os seus principais generais.
                                                       *****
            Até ao fim do ano três dos quatro chefes militares, sendo excepção o da Armada, acabam os seus mandatos e terão que ser reconduzidos e, ou, substituídos. Esta vai ser uma das principais questões que o novo governo recém-empossado vai ter que decidir.
            Não sendo de equacionar as opções políticas dos actuais ou futuros chefes militares, pois estas devem ser irrelevantes para os cargos em questão, já que um militar deve servir com lealdade os legítimos representantes da Nação (embora o conceito de “lealdade” seja algo bizarro e estranho à maioria dos políticos); não estando em causa também questões de carácter, pois não passa pela cabeça de ninguém que oficiais com quatro estrelas quando se lhes pergunta as horas,eles não respondam acertadamente (Moniz Barreto dizia, até, que quando o homem de guerra se põe em marcha, à sua direita vai a coragem e à sua esquerda a disciplina), os critérios da escolha vão ter que ser ponderados noutro âmbito.
            Se estivéssemos num país em que a Instituição Militar preocupasse minimamente os órgãos de soberania, a questão requereria ponderação séria, dada a delicadeza do momento. E esta delicadeza tem a ver, sobretudo, com a simultaneidade do fim dos mandatos; com a quase indigência em que se encontram os Ramos, com especial acuidade para o Exército; com o mau relacionamento político-militar que se arrasta do anterior; com o incumprimento de numerosa legislação relativa aos militares, por parte de sucessivos governos com realce para o último; e, sobretudo, pelas desavenças públicas sobre questões fulcrais relativamente às leis orgânicas do MDN/EMGFA/Ramos e não só, que separaram o Ministro e o CEMGFA, por um lado, e os Chefes dos Ramos, por outro – que culminou na ocorrência até agora inédita, desse desentendimento ter ficado explícito em sede da Assembleia da República.
            Ora tem-se alguma dificuldade em compreenderder como, no futuro, pessoas que não conseguiram chegar a uma plataforma de entendimento, podem implementar seja o que for, nem como é que oficiais tarimbados vão, eventualmente, aceitar pôr em execução algo com que discordaram tão frontalmente.
            Ora o governo e o PR – a coisa aqui complica-se – têm basicamente três escolhas possíveis:
            Substituem todos de uma penada, ou seja ano novo vida nova; mantêm o CEMGFA e “despedem” os chefes dos ramos – hipótese com alguma coerência política, dado o passado recente – ou deixam tudo como está, adiando assim maçadas futuras.
            A hipótese do CEMGFA obter um “muito obrigado e até à próxima” e ser substituído por um dos actuais chefes aparenta ser complicada demais pois geraria uma equação de várias variáveis a várias incógnitas.
            A hipótese do CEMGFA ir parar a Ministro da Defesa e depois “logo se vê” – cartada que poderia agradar a Belém, mas que creio ser inverosímil, logo à partida, por ser “execranda” no aparelho socialista. Além do que ao indigitado primeiro-ministro não deve desagradar a hipótese de copiar “son ami” Zapatero e presentear-nos com uma cidadã do sexo feminino, embora não “embaraçada”[1].
           Aliás a escolha do futuro ministro da defesa pode também condicionar as escolhas,embora não seja fácil encontrar ministeriáveis que se prestem ao sacrificio de irem aturar uns tipos “esquisitos” (os militares),que servem uma instituição com que não atinam....Parece que o actual secretário de estado tem hipóteses – sempre era uma promoção – e o eterno candidato Miranda Calha, pode outrossim estar na calha – sempre conhece o meio faz tempo – restando ainda o actual inquilino,que apesar de se ter despedido outro dia,pode ter mudado de ideias – o sr PM é que pode não estar interessado em continuar a ter quem não faça nem deixe fazer...
            Ora ponderadas todas as hipóteses mais aquelas que “não lembram ao estado-maior” e sabendo-se de ciência certa que nenhum chefe vai para casa voluntariamente (a não ser que se consiga antecipar a alguma situação que de todo não lhe agrade – o que não é verosímil pois “eles” mantêm-nos na dúvida até à última…), arrisco em dizer que vai ficar tudo na mesma, embora o actual CEMGFA atinja o limite de idade em fevereiro de 2011,ou seja,um ano antes de terminar um eventual novo mandato. Tal encaixa na perfeição na máxima, “dividir para reinar”, ao mesmo tempo que se lança o ónus do desentendimento e das dificuldades para cima dos chefes militares. As Forças Armadas continuarão a ser diminuídas e maltratadas, sem oposição que seja eficaz ou se veja. Vão ter a sorte do Massena.
            Aprende-se pouco em Portugal.


[1] Grávida.

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