domingo, 17 de outubro de 2010

OS AUMENTOS SALARIAIS E AS RELAÇÕES POLITICO-MILITARES

20/08/09

“Quem comeu o frango, há-de comer o galo, ou pagá-lo”
D. Francisco de Almeida

     Na sequência da actualização de remunerações e suplementos das Forças de Segurança(FS) - em que o governo se preparava, uma vez mais, para fazer-se esquecido relativamente ao parente pobre do Estado, em que as Forças Armadas (FAs) se transformaram depois do fim do Conselho da Revolução, em 1982 – dizia – acabou por ser aprovado, algo a martelo, o diploma que tenta harmonizar a tabela salarial e a condição militar dos, agora e apenas, tolerados militares.
     Os cidadãos que servem Portugal nas FAs, começaram por ser desnivelados dos vencimentos dos magistrados, universitários e diplomatas, que em conjunto eram tidos como os grandes pilares do Estado (e que o “Estado Novo” sábia e laboriosamente equiparara), para serem segregados, a seguir, das “alcavalas” das FS, para agora acabarem abaixo da tabela dos técnicos superiores da função pública. Ódio velho não cansa... mas, se assim é, tenham coragem e afrontem-nos, de caras e de vez!
    O presente diploma, para além de conter vários aspectos criticáveis, dispõe que os aumentos para os generais de três e quatro estrelas “dispararam” relativamente ao resto das tropas. Até parece que os querem “comprar”...
     Esta diferenciação tomou forma – salvo erro -  no primeiro governo do Prof. Cavaco Silva em que, inclusivé, se retirou as chefias militares da grelha salarial dos diferentes postos, indexando-os aos cargos politicos. Ou seja, separaram-se os chefes do resto das tropas. Ora sendo a Instituição Militar (IM), caracterizada pela forte hierquização de postos e funções é natural que a tabela de vencimentos também reflita tal pressuposto. Mas não deve, sem embargo, pôr em causa a coesão a justiça relativa, o espírito de corpo e outros atributos especificos da IM, sem os quais os Exércitos são uma ficção.
       E se os chefes militares – não sei se os quatro, se os três – apesar da violência verbal e escrita com que trataram o assunto, não conseguiram fazer valer os seus argumentos, ao menos que não aceitassem, no final, tamanha diferenciação.
     Lamentavelmente parece ter sido usada, de novo, a técnica de má conduta consubstanciada no facto das chefias serem entretidas com determinados números e pressupostos e no fim verem-se confrontados com coisas diferentes. Chama-se a isto deslealdade.
       Por tudo isto, há muitos anos que semelhantes procedimentos deveriam ter sido atalhados cerces e denunciados. Se o Dr. Portas, por ex., à segunda vez que tivesse chegado atrasado a uma cerimónia militar, já lá não encontrasse ninguém para o receber, certamente que não teria porfiado na irresponsabilidade e falta de educação do acto.
       Ou quando o Dr. Caldas, em directo na TV, quis fazer uma piada pífia com uma frase do Clemanceau – que ele julgava ser do Churchil – tivesse, logo de seguida, engolido a graça, se calhar não teriamos chegado a este plano inclinado.
      Lembram-se do Dr. Jardim? Desde que um coronel na reforma lhe assentou as costuras nos idos de 70 e muitos, que tem tido um comportamento exemplar para com os militares – enfim, questão da bandeira regional, na capitania do porto e tentativa de “assalto” ao Palácio de S. Lourenço, à parte.
     É preciso ultrapassar questões do foro “hortícola” que nos tolhem e que têm permitido abusos e desconsiderações. Mas só assim poderemos ser respeitados.
       O que mais dói, é que os estimáveis profissionais de uma instituição acima de tudo patriótica, que obrigatoriamente tem de dar de si uma imagem de coragem – fisica e moral – e que se consideram, com alguma justiça, os catedráticos da estratégia, da táctica, da logística, operacionais ferozes de várias artes e saberes, se deixem – ao fim e ao cabo – tosquiar como cordeiros mansos, sem um ai! que se oiça.
    Ainda por cima por aprendizes da política, de muito baixa categoria.
    Tenho pena que assim seja. E muita vergonha.

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