terça-feira, 12 de outubro de 2010

O NOVO AEROPORTO DE LISBOA E A DEFESA NACIONAL

Tomada a decisão de construir o novo aeroporto de Lisboa, na OTA, nos idos de 1999, esta foi aboborando e sendo contestada até que, em Janeiro de 2008, o governo após grande controvérsia mudou a agulha para Alcochete.
            Acontece que na zona de Alcochete existem instalações militares afectas à Defesa Nacional (DN), actualmente sob a alçada da Força Aérea (FA) mas que se destinam a apoiar também os outros Ramos, as Forças de Segurança e o que resta das indústrias de Defesa. Existem ainda paióis. A principal função do Campo é,  sem embargo, o de permitir o treino dos pilotos da FA na largada de armamento real e de treino (tiro ar-solo). Quando necessário reserva-se um espaço aéreo sobre o mar entre a Nazaré e a Figueira da Foz, para tiro ar-ar.
            Muito raramente faz-se tiro ar-solo em S. Margarida em manobras conjuntas com forças terrestres, mas com muitas limitações,que têm a ver com a segurança das populações vizinhas. Estas limitações não são susceptíveis de desaparecer.
            Quer isto dizer que se Alcochete fecha como carreira de tiro, não há hipóteses de manter as qualificações operacionais dos pilotos em tiro ar-solo em território nacional. A não ser que se faça outra carreira de tiro.
            As Forças Armadas não existem para impedir o desenvolvimento do país e não passa pela cabeça de nenhum militar qualquer pensamento que possa ir nesse sentido. O problema é que também não poderá haver desenvolvimento sem segurança e quando um choca com o outro há que se fazer opções, chegar a compromissos e arranjar alternativas que salvaguardem interesses fundamentais ou importantes.
            Pelo que sabemos nada disto foi ou está acautelado, daí a nossa preocupação e a razão deste escrito.
            Com  voz mansa alguns comentadores e entidades, vieram dizer publicamente que a razão da inicial impossibilidade da ida do Aeroporto para Alcochete era a oposição dos militares. Ninguém desmentiu nem aquiesceu, pela simples razão de, em Portugal, haver uma dificuldade cromossomática em se assumir as coisas.
            Sobre este assunto destaco o Sr. MDN que sobre a questão proferiu generalidades no tom cinzentinho a que nos habituou; o Sr. Van Zeller, grande impulsionador da opção Alcochete, que do alto da sua pesporrencia ignorante e atrevida bolsou uma frase épica: “os militares que vão dar tiros para a Andaluzia ou para Marrocos”, esquecendo-se,contudo, de acrescentar se também pagava; se já tinha conversado com as autoridades que por lá mandam e se salvaguardava os problemas de soberania que daí adviessem. Finalmente o chefe da FA afirmou “urbi et orbi” que a “FA era parte da solução, não era parte do problema”: Parece curto ….
            A questão ultrapassa, até, a FA. O CTA diz respeito a todos os Ramos logo deveria ser também  objecto de análise no Conselho de Chefes de Estado-Maior e de eventual preocupação pública, por parte do CEMGFA.
            Mais, como tal mexe no dispositivo e no sistema de Forças, a questão deveria ser ainda discutida em Conselho Superior de Defesa Nacional. E eu arrisco-me a dizer que as chefias militares, nunca deveriam ter dado o seu aval a uma decisão destas sem terem garantido que se iria construir em tempo útil e sem solução de continuidade, uma alternativa adequada ao CTA. E deviam-no fazer porque, infelizmente ,deixou de se poder acreditar nos políticos.
            Veio à baila a hipótese de Mértola,zona conhecida por Vale dos Mortos,próxima de Vila Verde de Ficalho (que é longe – um F-16, por ex., para lá ir gasta 3 a 4 vezes mais combustível de que ir a Alcochete e provavelmente teria que aterrar em Beja, e tem problemas de ricochetes, etc.),mas é um nado morto. Mesmo partindo do princípio, altamente duvidoso, que existam meia dúzia de políticos em Portugal, preocupados com a DN, alguém acredita que haja um governo que tenha  vontade política para gastar uns largos milhões de euros num espaço onde uns tipos – que eles ainda por cima detestam -, vão dar tiros?
            Para os mais cépticos lembro que desde 1975, já fecharam cerca de 200 órgãos e unidades militares. E foram construídos de raiz, com dinheiro nacional, que me lembre quatro: a Academia da Força Aèrea (por falta de acordo com o Exercito); a Escola Prática de Administração Militar, na Póvoa de Varzim (por troca com os terrenos da anterior sita no Lumiar); o hangar para os helicópteros da Marinha (dentro da Base Aérea do Montijo) e o Depósito de Material de Guerra, em Benavente (por troca com os terrenos cedidos à Expo 98).
            Será que não estou a ser razoável?

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