sábado, 9 de outubro de 2010

O TURISMO E NÓS PRÓPRIOS

22/03/10

             Uma anunciada 1ª mostra gastronómica do peixe do rio promovida pela autarquia do Alandroal levou-me – gulodice a quanto obrigas! – a visitar partes do Alentejo, umas mais profundas que outras.
            Ora aqui está uma boa iniciativa, pensei, para conservar e promover as tradições, gastronómicas e bons costumes, de toda uma região empobrecida e abandonada pelo Terreiro do Paço. Ou seja, a preservação da cultura que nos molda a idiossincrasia e nos individualiza (e une) como nação.
            Foi um primeiro passo, que apenas mobilizou uma meia dúzia de restaurantes em três localidades e uns quantos cartazes divulgaram. Há que alargar e coordenar com outros eventos, de modo a tecer uma teia de actividades sustentadas e com nexo, que possam valorizar a tão depauperada economia das regiões do interior, agregando-as ao litoral em vez de as empurrar para as regiões transfronteiriças espanholas.
Neste particular aparece como importante a promoção e correcta regulamentação da pesca, desportiva e artesanal, em rios e barragens (aquacultura  nestas últimas?) o que já não parece nada bem e dá uma dor de alma ver, é o estado de degradação em que se encontram grande parte (senão a maioria) das casas de todas as aldeias e vilas, algumas das quais ainda representam jóias da arquitectura e urbanismo rural. Isto para já não falar do grau de destruição, sujidade ou falta de conservação de monumentos nacionais ou imóveis de interesse público, de que se destacam castelos, fortalezas, palácios e igrejas.
            A lei tem que ser aperfeiçoada para obrigar os proprietários à conservação e correcto usufruto, arrendamento, etc., dos seus espaços e imóveis e à dirrimição de contendas de herdeiros, para que a paisagem do abandono, desleixo e destruição não prevaleça. Do mesmo modo há que apelar ao brio público para que as casas estejam rebocadas e pintadas.
No Alentejo, a maioria das casas é, até, caiada, método mais barato e mais simples de cuidar dos imóveis. O abandono dos campos (erro trágico!) parece que levou ao abandono de tudo, e as pessoas parecem satisfeitas, mansas e domesticadas, com os subsídios a que se habituaram… A constituição de pequenas empresas que se dedicassem à reparação e a pequenas obras de manutenção, parece-me um bom passo para dar a volta a tudo isto, ao passo que dava emprego a muita gente (desde que não contratassem apenas imigrantes!...).
            Se, junto com isto, plantassem árvores e ornamentassem as janelas e ruas com vasos e flores nos jardins, veriam como a vida lhes pareceria mais leve e bela.
            Exemplo do desconchavo patrimonial é Jurumenha, local de rara beleza natural; ponto estratégico que em tempos foi; defesa da fronteira e praça forte de relevância histórica no Portugal medievo e da época da Restauração, está reduzida a meia dúzia de casas e a uma enorme ruína, que é o termo mais correcto para designar o que outrora foi uma fortaleza altaneira. Que se há-de dizer mais?
           Outro exemplo é o Palácio dos Henriques e a Igreja e Jardim das Conchas, que lhe ficam fronteiros. Duas quase ruínas que ameaçam ruírem. A arquitectura e decoração da Igreja e Jardim das conchas é originalíssima e talvez única no País e quanto ao Palácio, que ainda mostra a sua imponência, foi só o local onde, em 1479, se assinou o muito relevante Tratado de Alcáçovas. Para se visitar é preciso ir pedir a chave ao posto de turismo…
            Passemos a Elvas. Para além das ameixas belíssimas, mas caras para a nossa depauperada bolsa, e dos atoalhados que continuam a fazer a delícia castelhana – uma pequena glória que a indústria espanhola não consegue ultrapassar – resta-nos a mesma degradação geral da urbe que encontramos nas pequenas vilas e aldeias e um monumental complexo de arquitectura militar.
            Se há alguma cidade em Portugal que se pode designar como uma cidade militar, é certamente Elvas. A geografia e a vontade dos homens assim o determinaram.
            Este conjunto singular e complexo de arquitectura militar é um património histórico de grande valor, nacional e internacional, que está sub aproveitadíssimo.
            Além de dever ser um local de “peregrinação” histórica dos portugueses, poderia estar preparado para a realização de colóquios internacionais, relacionados com a História Militar, deveria possuir um roteiro histórico/militar devidamente estruturado e com guias, complementado com museus militares a condizer. Os dois existentes,um à responsabilidade da autarquia (o forte de S.Luzia),outro no antigo quartel na cidade, à guarda do Exército – instituição nacional por excelência que está perfeitamente depauperada de meios! – ainda estão incipientes e carecem de muitas melhorias, que só um investimento substancial poderá permitir.
Enquanto isso não acontece, pequenas acções, tais como indicações correctas, arranjo de holofotes vandalizados e melhoria da loja, ajudariam. Estamos a falar do Forte de S. Luzia. É sempre agradável não pagar para entrar mas, hoje em dia, nada se faz sem dinheiro. A ponderar. Há centenas e centenas de oficiais e sargentos na reserva e reforma que poderiam ser muito úteis neste, como noutros campos. Mas como passámos a ser um país de gente zangada e ninguém se entende com ninguém, o prejuízo e o desperdício tem sido incomensurável.
            É no turismo porém, que este património de antanho – quando havia verdadeiras preocupações de Defesa e Segurança – deve ser aproveitado.
            Como o turismo é a primeira indústria nacional, ao contrário da Defesa que está no fundo das prioridades, aquele tem recursos e esta não. Por isso invistam alguns desses recursos na promoção de Elvas, até porque o retorno é certo. Não faltam edifícios que podem ser aproveitados como hotéis, pousadas e turismo de habitação; imaginem reconstituições históricas, feiras, etc.
            Deitem a mão ao Forte da Graça, uma das fortificações mais imponentes do mundo, que levou 30 anos a construir e está fechada, em degradação acelerada e à venda em hasta pública! Tenham ideias mas não sejam idiotas.
            Finalmente, estimulados pelo equinócio da primavera (21/3), fomos tentar ver o nascer do sol no mui antigo e sagrado local, dos Almendres, a 12 Km de Évora, onde existe o maior Cromeleque da Península Ibérica.
            À semelhança do que faziam povos antigos de há 10.000 anos, que enterraram e alinharam pedras de muitas toneladas em posições e ângulos específicos orientados com fenómenos celestes, com uma precisão que impressiona. Como impressiona, também, ouvir a muitos arqueólogos e historiadores,  tratar estes povos como ignorantes e bárbaros .....
            A expectativa saiu frustrada pois o nevoeiro não ajudou, mas ficou a certeza do mau aproveitamento turístico e cultural de todo o património megalítico existente no Alentejo, que é o mais rico de toda a Europa. De realçar, outrossim, a falta de segurança destes monumentos que estão ao abandono absoluto, sem nada nem ninguém que os proteja. Haja Deus!
            Assim somos e assim deixamos a vida correr, no antigo reino de Portugal.

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