27/3/2010
Culminando um longo período de desacertos, guerrilha interna, lideranças a prazo e muito folclore político/partidário, a actual segunda força política do espectro partidário da lusa gente, lá conseguiu eleger um novo presidente do partido.
Desta feita fê-lo por uma margem expressiva (61% dos votos), provavelmente para acabar de vez com o ciclo de lideranças precárias e sem o grau consensual adequado…
Esta a primeira conclusão a tirar. A segunda sendo que, mais uma vez, o grande estratega que actua como eminência parda, e que está por detrás da vitória de Passos Coelho, é o EngºAngelo Correia. A.Correia é, de facto, um dos raros políticos bem preparados que o país tem. Só que a sua primeira prioridade não aparenta ser a política, mas sim os negócios. Uma promiscuidade que normalmente resulta mal. A coisa com o autarca de Gaia, acabou por correr menos bem, apesar das aparências terem sido salvas. A reter e a aguardar. A terceira conclusão que se pode tirar, desde já, é que o eleitorado alaranjado, quis correr com os baronatos que desde sempre têm condicionado o poder dentro do partido . É natural que o “império” contra ataque. O líder que se cuide…
Aliás Passos Coelho, tem um problema sério a resolver que é o facto de não estar presente no Parlamento e estar longe de dominar o grupo parlamentar, o que foi armadilhado à partida.
Para além disto, a tarefa principal é dotar o PSD de uma doutrina consistente donde derive uma política e daí as estratégias adequadas aos timings e às situações. O partido é, neste âmbito, o pior de todos eles: é árido e prolixo ao mesmo tempo, um mosaico indefinido, um saco onde cabe quase tudo. Uma confusão ingovernável, como diria o corrosivo Vasco P. Valente.
Com isto dito, vamos a coisas verdadeiramente importantes. O PSD consegue, pelos seus genes, ser o partido mais baralhativo e anarca, que por aí anda. De tal modo assim é, que até confunde uma organização mais secreta que discreta, de que apenas aflora o nome e que é conhecida pelo Grupo de Bilderberg. [1]
Este grupo que não está só no mundo – é parte até de uma rede complexa e complementar – mas aparenta ser o que mais directamente interfere na situação em Portugal.
De há umas décadas a esta parte todos os primeiros-ministros,que residiram em S. Bento (como de resto, na maioria dos países europeus ocidentais), passaram previamente pelas recrutas anuais destes senhores todos poderosos (que, aliás, ninguém elegeu…). Normalmente vão aos pares e são quase sempre do PS e do PSD, como se só estes partidos estivessem “autorizados” a governar em Portugal (curioso como tal é semelhante ao que sucedeu em Portugal após a Regeneração de 1851, com o Rotativismo – alternância entre o Partido Regenerador e o Progressista..). Foi assim que lá foram parar, Durão Barroso e Ferro Rodrigues,Morais Sarmento, Santana Lopes e Sócrates; Aguiar Branco e Augusto S. Silva; Ferreira Leite e Manuel Pinho. E sim, o ex-D. Sebastião também por lá navegou. A lista é extensa e está publicada.
É sempre uma dupla que vale por uma tripla. Nem sempre se consegue controlar tudo, pois acontecem inopinados: Ferro Rodrigues ficou fora de acção por causa da Casa Pia; Manuel Pinho por causa da cena dos corninhos; Guterres porque se fartou – embora ande a cumprir a missão noutro local, apesar de se dizer católico (a verdadeira Igreja é auto exclusiva neste particular mas pode ser infiltrada). Ferreira Leite por seu lado, não tem alma para isto. Direi que é demasiado honesta para isto. Por vezes, valores mais altos se levantam e mudam-se os planos, eis porque passaram “guia de marcha” a Durão Barroso para ir dirrimir problemas noutro campeonato (é claro, se lhes perguntarem eles negam tudo!...).
Ora tudo isto tem muito pouco de democrático. Aliás, a Democracia, é apenas uma fachada, que aqueles que verdadeiramente têm o poder, ou estão organizados para ter, usam para encobrir os seus fins, que de claros e límpidos não têm nada, a não ser (que se note), a manutenção do poder e o lucro.
Uma pergunta deve estar a bailar, por esta altura na mente dos leitores: quem é que escolhe os eleitos para ir às reuniões? Pois o nome que aparece mais consensual neste âmbito é Pinto Balsemão, que passa por ser o secretário permanente da organização atrás citada, para este cantinho à beira mar plantado. Como ele lá chegou, não se sabe, é objecto de especulação. Perguntem-lhe. Balsemão passou, efemeramente, pela cadeira do poder (sempre dá curriculum, experiência e conhecimentos), para se afastar depois, ostensivamente, para se dedicar à sua paixão pelo jornalismo. O que pode ser apenas um subterfúgio para continuar a influenciar o poder no sentido prescrito para a organização apátrida para quem, porventura, trabalha.
Pinto Balsemão (PB) começou no Expresso, que foi um dos principais aríetes no derrube do regime português do Estado Novo – que por ser eminentemente patriota, tinha que ser derrubado, pois não alinhava neste baralho. Mais tarde o trabalho de PB tem sido o de ir criando um empório na comunicação social (CS), o que culminou com a SIC. Quem domina a CS ou grande parte dela, elege e depõe presidentes…. A SIC porém, não se ficou por aí tenta, aparentemente, mudar a sociedade através da “subversão” dos costumes, das referências, das instituições, etc.
A Igreja ainda se quis opôr a isto, tomando conta da TVI, mas falhou, ou fizeram-na falhar. As coisas não são o que aparentam. Mário Soares, não precisou, quase por certo, de nada disto (a não ser para o OK, ao 25 de Abril), chegou lá através da Internacional Socialista , outro dos tentáculos do cefalópode (“polvo”).
O Prof. Cavaco Silva deve dar alguma atenção a estas coisas em vez de andar enleado quase sempre entre a tecnocracia dos números/economia/empresas/finanças.
O que é que isto tem a ver com a nova direcção dos sociais-democratas, perguntarão?. Pois parece que tem tudo, havendo ainda alguns mistérios a entreabrir: porque é que Aguiar Branco foi preterido, depois de ter sido “preparado” faz tempo? Porque foram buscar à pressa Rangel? (quase certamente porque F. Leite não quis aturar o fardo…). Aquele, porém, não teve tempo de ser “convidado”/“preparado” – o convite ainda foi feito,nas vesperas do Congresso, mas ganhou o Passos Coelho. A maioria dos eleitores desconhece estas nuances… Até o Dr. Jardim, que não se costuma perder, baralhou-se e apostou no cavalo errado!
O Dr. Coelho que se cuide, pois (e bem andaria se deixasse cair o que pensa sobre o serviço militar obrigatório, a regionalização, as drogas, o casamento dos pares idênticos, e mais uma série de disparates). E para azar dele, a química com o Prof. Cavaco também não parece ser a melhor. E este sendo reeleito, ainda diminui mais as hipóteses de Passos, pois isso seria pôr muitos ovos no mesmo cesto e a situação ainda não estar madura para isso. A estrelinha de Sócrates continua a brilhar. Até acontecer algo que ninguém controle.
Independentemente do que acontecer, a agonia vai começar a sério.
[1] Bilderberg, é o nome do hotel onde decorreu a primeira reunião do grupo então formado (1954),em Oosterbeck,Holanda, por iniciativa do Príncipe Bernardo, e que reunia a fina flor da política, homens de negócios, banca, “media”, forças de segurança, etc.
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